Colunistas

Verissimo 80 anos

A Paris do aniversariante Luis Fernando Verissimo

Conheça os locais preferidos do escritor na capital francesa

Fernando Eichenberg

Verissimo em Paris

Luis Fernando Verissimo pisou pela primeira vez em Paris em 1959, aos 22 anos, em uma viagem na companhia dos pais, Erico e Mafalda. Era também a estreia do autor de O tempo e o vento no continente europeu.

– Era o grande sonho da vida dele (o pai) conhecer a Europa. Ficamos quatro meses rodando e um mês inteiro em Paris – contou em conversa com Chico Buarque, quando reuni a dupla num bate-papo na capital francesa para um programa de tevê no Ano do Brasil na França, em 2005.

LEIA MAIS TEXTOS DO ESPECIAL
80 ANOS DE VERISSIMO:
>>> Verissimo: 80 anos de um enigma envolto em introspecção
>>> Um homem de opinião que só se expressa por escrito
>>> Verissimo com a palavra: "Cronista precisa ter lado"

ARTIGOS E COLUNAS
> Sergius Gonzaga: humor e melancolia
> Eduardo Wolf: ilusões perdidas
> Luis Augusto Fischer: fineza para as massas
> Fraga: Luis Falante Verissimo
> Fernanda Zaffari: um amor entre Londres e Verissimo
> Fernando Eichenberg: a Paris do aniversariante
> Paulo Germano: o dia em que fui demitido

Sua primeira lembrança parisiense? A repentina visão ao sair dos subterrâneos do metrô para a superfície e deparar com a avenida de Champs-Elysées. Sobre essa primeira experiência na Cidade Luz, resumiu:

– A sensação de estar numa ideia diferente de cidade e de civilização – me disse, quando o entrevistei aqui uma outra vez.

Verissimo e Paris nunca mais se separaram. A cidade se tornou ao longo dos anos um tipo de porto seguro, onde se refugia – na companhia da inseparável Lucia – para frequentar boas mesas da capital da gastronomia, visitar exposições e livrarias, assistir a shows de jazz e concertos de música clássica ou simplesmente flanar pelas ruas e fazer repousantes sestas no sofá de seu apartamento, próximo à praça Trocadéro.

O restaurante Laurent

O escritor mantém uma relação dicotômica com a cidade: como um habitué, conserva a fidelidade a conhecidos endereços; como um curioso aventureiro, está sempre disposto a explorar novos destinos. Quase invariavelmente, seu primeiro reflexo após deixar as malas em casa é fazer uma parada no restaurante Laurent, na avenida Gabriel, na parte ajardinada de Champs-Elysées. Uma mesa que, segundo ele, mereceria seis estrelas no reputado Guia Michelin (a classificação máxima é de três).

– Não há melhor programa em Paris do que almoçar no seu terraço, desde que haja sol e a temperatura permita. A pedida é salada de lagosta, um peixe branco e um Sancerre sincero – aconselha.

Na lista de preferências do incansável gourmet, estão ainda o "imbatível" steak tartare do Bar des Théâtre, nas proximidades do Théâtre des Champs-Elysées; o arenque do tradicional Chez Georges, perto da Place des Victoires; o Taillevent, na rua Lammenais, do saudoso Jean-Claude Vrinat; o L'Ambroisie, na Place des Vosges, da talentosa e acolhedora família Pacaud, ou o assediado L'Astrance, na rua Beethoven, do chef Pascal Barbot, quando é possível obter uma reserva.

Michel Legrand

Sua livraria na cidade é anglófona: a charmosa Gagliano, sob as arcadas da rua de Rivoli. Pelo menos uma visita a suas estantes é indispensável a cada vez que vem a Paris. Na música, possui um "amor antigo", o compositor Michel Legrand; mas cultiva também amantes literários, como "o velho Camus", e cinematográficos, como "o velho Belmondo".

Verissimo não perde as exposições em cartaz, seja no Grand Palais, no Centro Pompidou, no Palais de Tokyo, no Museu Jacquemart-André ou em qualquer outro espaço de arte da cidade. E, sempre que pode, dá uma passada em uma loja Fnac para comprar algum CD – na seção de jazz, de preferência. Numa outra entrevista, perguntei o que andava escutando naqueles dias, e ele respondeu:

– Eu tinha um vinil de 10 polegadas do Oscar Peterson cantando e me lembrava de como gostava desse disco. E agora encontrei aqui em Paris o CD e comprei, para me lembrar daquela época. Engraçado que o Oscar Peterson tem o mesmo tipo de timbre de voz do Nat King Cole. Continuo ouvindo bastante jazz, também muita música brasileira, alguma música erudita, principalmente Bach e Villa-Lobos. Ouvi uma bela missa do Beethoven agora aqui em Paris, na Salle Pleyel, um espetáculo.

Oscar Peterson

Como passeio, diz se inspirar no filósofo flâneur Walter Benjamin (1892 – 1940), "que gostava de andar pelas galerias". Já o escritor Guy de Maupassant, lembra ele, dizia que a melhor vista de Paris era da Torre Eiffel, porque não se via a Torre Eiffel.

– Mas na sua época ainda não existia a inexplicável Torre Montparnasse – acrescentou, com toda a razão.

Mas, em termos de ângulos e perspectivas, o escritor tem um local especial seu na cidade:

– Um ponto no Quai de la Tournelle, em que você tem os fundos da Notre-Dame a sua esquerda, e a Île Saint-Louis a sua direita.

Grand Palais

Quando o indaguei sobre "um desejo", replicou de pronto:

– Voltar a Paris com a minha neta.

De lá pra cá, o avô escritor ganhou também um neto, e o comboio para a capital francesa vai aumentando.

São inúmeras as histórias e momentos que compartilhamos nestes anos todos na capital francesa. No entanto, muitos deles, para não envergonhar nossas biografias, convém deixar no esquecimento. Como aquela noite em que jantamos nós três – eu, ele e Lucia – no estrelado restaurante de um grand palace parisiense e… Bom, ainda bem que acabou o espaço. Esta história deixarei para contar quando nosso aniversariante homenageado comemorar seus 90 anos de vida. Quem sabe, aqui mesmo em Paris, com seus filhos e netos reunidos, o Michel Legrand como trilha sonora, e uma boa garrafa de Saint-Estèphe para o brinde.


GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Supersábado

08:00 - 11:00