No cenário desanimador dos últimos meses, em que os indicadores obrigaram a trocar a promissora "despiora" por uma triste "repiora", a menor inflação para o mês de novembro desde 1998 – 0,18%, pouco acima de zero – traz enfim uma boa notícia para a economia. Espécie de jabuticaba da crise brasileira, a situação que combinava a maior recessão da história do país com inflação elevada conjugava o pior dos mundos. Nos manuais de economia e na vida real, o "normal", quando a atividade despenca, é que os preços sigam pelo mesmo caminho.
Com o choque tarifário do início de 2015, o Brasil enfrentava um quadro pouco comum: o PIB despencava enquanto os preços subiam. Para controlar a inflação, seu único mandato oficial, o Banco Central (BC) tinha de manter o juro alto, o que acentuava a recessão. A queda nos preços custou caro: boa parte dos 12 milhões de desempregados são resultado dessa lamentável combinação entre recessão e inflação, que determinava o mantra em governos e empresas: corte de custos.
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O caminho para uma eventual recomposição da normalidade é longo e cheio de obstáculos. Sem grandes sustos no câmbio, que não estão fora de cenário, a inflação em queda abre espaço para cortes menos conservadores no juro, reivindicação de 11 a cada 10 empresários. Embora o aumento nos combustíveis tenha praticamente eliminado a possibilidade de a inflação acumulada em 2016 fechar dentro do teto da meta – sim, o que era impensável no início do ano passou a ser cogitado no início de novembro –, o resultado bota pressão sobre o BC.