O terremoto político que chacoalhou o país durante a semana com a divulgação da lista de Fachin e dos conteúdos das delações da Odebrecht renovou o receio de o Brasil ver outra vez abortada a já mais do que postergada recuperação da economia. O número de alvejados pelas revelações dos ex-executivos da empreiteira e o status no poder dos atingidos alimentam o temor de paralisia do governo e mais atraso nas votações de questões importantes no Congresso, onde a reforma da Previdência é o ponto considerado mais sensível e controverso.
Para o analista político Richard Back, da XP Investimentos, tudo que o Planalto não pode agora, se não quiser ver o país prolongando a recessão, é se prostrar. E aposta que a resposta ao novo turbilhão virá da agenda econômica.
– A história recente deste governo mostra que, quando surgem dificuldades políticas, corre para a pauta econômica. Foi assim quando anunciaram prioridade na reforma da Previdência, teto de gastos, liberação do FGTS – lista.
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Back entende que, diante da dificuldade em avançar no momento com a questão da Previdência, devido às grandes resistências, Temer deve tentar acelerar a reforma trabalhista. Mas a solução para as aposentadorias é o foco central das atenções do mercado.
– O juro segue caindo, a bolsa não despencou, o dólar está controlado. Isso (a turbulência política) atrapalha a recuperação da economia, mas o importante é a reforma da Previdência continuar viva – diz.
A travessia da crise mais lenta faz com que a maioria dos brasileiros continue pessimista, mostrou pesquisa divulgada ontem pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas. Dos ouvidos, 81% consideram o quadro atual da economia ruim ou muito ruim. A corrupção é apontada como principal causa do descontentamento.
Diante do cenário atual, a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, considera improvável o PIB crescer 0,5% em 2017, hoje a aposta majoritária do mercado. O fim da recessão, mais uma vez, deve ser postergado.
– Precisamos de dois ventos a favor: as reformas e a retomada da confiança. E os políticos parecem mais preocupados em salvar a própria pele do que fazer os ajustes necessários – observa.
Se no front interno a percepção não é nada boa, o governo corre para não deixar piorar a imagem do país perante os investidores estrangeiros. Acalmá-los será a principal missão do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que na próxima semana estará em Nova York, para reuniões com o FMI e o Banco Mundial.
*Interino