Moacyr Scliar

Moacyr Scliar

Médico, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre em 1937. Autor de romances, ensaios e livros de crônicas, Scliar colaborou com Zero Hora por mais de 30 anos - do início dos anos 70 até sua morte, em 2011. Esta página traz uma seleção de crônicas publicadas por Scliar em ZH entre 1995 e 2011.

Previsões

As sete catástrofes que nunca existiram

Crônica publicada em 9 de janeiro de 2000

Moacyr Scliar

Médico, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre em 1937 e faleceu na mesma cidade em 2011. Autor de romances, ensaios e livros de crônicas, Scliar colaborou com Zero Hora por mais de 30 anos.

O bug do milênio foi a mais recente catástrofe anunciada, mas não a única. Ao longo do último milênio, e particularmente ao longo do último século, várias sombrias previsões foram feitas. Aqui está uma pequena lista das sete catástrofes que não aconteceram:

O fim do mundo - Anunciar o fim dos tempos é um esporte muito antigo. Está no Livro de Daniel, no Apocalipse de São João, nos sermões do Padre Vieira (datas previstas: 1670, 1679, 1700). No século 17, um homem chamado Sabetai Zvi conseguiu convencer milhares de judeus que o Messias estava para chegar e que deveriam aguardá-lo na então Palestina. Todos fizeram as malas - e nada. Sabetai Zvi foi preso pelos turcos e, ameaçado de execução, achou mais prudente converter-se ao islamismo. Que o mundo não tenha terminado nunca foi problema para os apocalípticos. Sempre existe a clássica explicação: o Senhor se apiedou da humanidade pecadora e resolveu dar mais um prazo. Questão: qual é o prazo final?

A batalha de Itararé - No dia 18 de julho de 1932 deveria ocorrer uma grande batalha na cidade de Itararé (SP) entre os revolucionários paulistas e as tropas federais. Os paulistas bateram em retirada, e Itararé passou para a História como A Batalha que Não Houve.

A invasão dos marcianos - Nos anos 30 e 40, a invasão dos ETs parecia questão de tempo. Orson Welles produziu em 1938 um programa de rádio descrevendo a chegada dos marcianos - tão convincente que pessoas morreram de ataques cardíacos. Os homenzinhos verdes com antenas nunca apareceram.

O holocausto nuclear - Depois de Hiroshima e Nagasaki, com os arsenais atômicos crescendo, uma catástrofe nuclear parecia iminente. Nos Estados Unidos, não havia casa que não tivesse seu abrigo atômico. Mas a União Soviética acabou e, com ela, a ameaça atômica.

A crise dos mísseis - Em 1962, um navio russo com mísseis dirigiu-se para Cuba, cujo governo estava contruindo uma base militar. O governo americano decidiu que aquilo era uma ameaça intolerável e deu um ultimato a Nikita Kruschev. O navio voltou e a III Guerra não começou.

A explosão demográfica - Nos anos 50, tornou-se moda prever uma explosão demográfica, que seria resultante da diminuição da mortalidade e da alta natalidade. Os métodos anticoncepcionais acabaram com esse pesadelo.

A gripe suína - Durante o governo de Gerald Ford foi feita uma previsão: um novo surto de gripe, tão devastador quanto o da gripe espanhola de 1918, estaria para eclodir, causado por vírus que passariam dos porcos para os seres humanos. Uma vacina chegou a ser preparada, mas foi um desastre: causava lesões neurológicas graves.

Realmente, as grandes catástrofes não aconteceram. Ou aconteceram, mas são tão crônicas (a fome, o desemprego) que não dão mais manchete de jornal. O que é - isto sim - uma catástrofe.

Confira a seleção de crônicas publicadas por Scliar em Zero Hora:
- 26/03/2000:
"Quem és tu, porto-alegrense?"
- 14/09/1997:
"Sobre centauros"
- 04/11/1995: "Literatura e medicina, 12 obras inesquecíveis"
- 25/09/1995:
"É o ano da paz?"

Leia também:
Carta da editora: "Scliar, nos bastidores"
Moacyr Scliar, 80 anos. O que fica de sua obra

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