Paulo Germano

Paulo Germano

Jornalista formado pela PUCRS, está em ZH desde 2006, mas foi em 2015 que se tornou colunista do jornal. Antes, atuou nas áreas de política, geral, cultura e esportes. É comentarista da RBS TV. Já venceu o Prêmio Petrobras de Jornalismo e foi finalista do Prêmio Esso. PG, como é chamado, escreve sobre vida real.

Na Câmara de Vereadores

O cardápio para diabéticos e a política do parece bom

Projeto do vereador Tarciso Flecha Negra obriga restaurantes e bares da Capital a "oferecer alimentação adequada" para quem tem diabetes

Paulo Germano

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Esse projeto de lei do vereador Tarciso Flecha Negra (PSD), que pretende obrigar todos os restaurantes e bares de Porto Alegre a "oferecer alimentação adequada para pessoas com diabetes", é mais um belo exemplo da política do parece bom.

Já escrevi sobre isso: trata-se de um fenômeno disseminado por câmaras e assembleias de todo o país. São sempre propostas simples, de fácil compreensão para qualquer pessoa, embaladas em um discurso meio altruísta que supostamente defende os desamparados.

O projeto de Tarciso, com votação prevista para a semana que vem no plenário da Câmara, exige que os estabelecimentos "incluam, em seus cardápios de refeições, sobremesas e bebidas, dieta alimentar planejada e elaborada por nutricionistas" para atender os diabéticos.

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A armadilha da política do parece bom é que ela mais reprime do que ajuda. Hoje, nenhum restaurante é proibido de fazer o que o projeto tenta obrigar. Mas, se o projeto for aprovado, qualquer xis de esquina que ofereça um cardápio mais simples – porque esse é o cardápio possível dentro da sua realidade financeira – ficará proibido de funcionar.

Aliás, aprove-se uma lei como essa e logo virão outras exigindo cardápios para cardíacos, celíacos, alérgicos, obesos, gestantes, idosos etc. E assim a cidade verá uma série de estabelecimentos fecharem as portas por impossibilidade de se adequar a uma legislação arbitrária.

Mas, voltando aos diabéticos, tenho dúvidas sobre como seria um cardápio específico para eles. A endocrinologista Patrícia Santafé, do Centro Clínico da PUCRS, diz que cada paciente requer uma dieta distinta, porque um diabético pode ser hipertenso, ou nefropata, ou dislipidêmico, ou puro, enfim, só a nutricionista e o médico dele podem recomendar a alimentação ideal.

– Mas as pessoas com diabetes, em geral, não têm uma alimentação fora do padrão. Pelo contrário, é só uma dieta mais saudável, com restrições que variam conforme o paciente, e que pode ser consumida em boa parte dos restaurantes – afirma a doutora Patrícia.

O vereador Tarciso, vale esclarecer, não é mal-intencionado. É, como nós, uma vítima da política do parece bom.

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