Punk, progressivo, heavy ou thrash metal: não importa o estilo, o rock pulsa nas veias dos gaúchos desde os anos 1960. Foi buscando tratar dessa relação de quem nasceu no Estado com guitarras distorcidas e vocais melódicos ou guturais que Luis Augusto Aguiar, Maicon Leite e Douglas Torraca escreveram Tá no Sangue! - A História do Rock Pesado Gaúcho. O livro será assinado pelos autores nesta sexta, às 20h, na Praça de Autógrafos da 60ª Feira do Livro.
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Desde 2010, o administrador Aguiar e os jornalistas Maicon e Torraca fizeram mais de 200 entrevistas. Com tanto material, foi preciso abandonar a ideia de compor um livro que se estendesse até os dias atuais, preservando o foco de Tá no Sangue! até o final dos anos 1980. A ideia é lançar no próximo ano um segundo volume, que aborde como a cena se desenvolveu nas década seguintes.
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O livro traz biografias de bandas como Liverpool, Byzarro, Bixo da Seda, Panic, Leviaethan, Astaroth e Spartacus, entre outras. Além disso, há capítulos dedicados a temas como censura, lojas de discos e com histórias pitorescas.
- O rock pesado gaúcho tem a mesma qualidade de outros estados brasileiros, com muitas bandas boas no Interior e na Capital. Os grupos só não estouraram mais porque estamos "longe demais das capitas", afastados de grandes centros como São Paulo - avalia Maicon.
Tá no Sangue! ainda pretende ir além do papel: no site tanosangue.net, os leitores podem acessar uma coleção com raridades musicais. E, apesar de pagar tributo ao passado, Maicon aponta que o objetivo dos autores é fortalecer o rock no presente:
- Espero que o livro motive os leitores a frequentar mais shows e a montar bandas.
Confira abaixo mais histórias sobre os porões do rock gaúcho
Júpiter Maçã no metal
A banda Pesadelo surgiu em 1984, nos corredores do Colégio Rosário, em Porto Alegre. Sua história se divide em duas etapas. Na fase inicial, contava com o vocalista e baixista Flávio Basso, que anos depois seria conhecido por Júpiter Maçã, o guitarrista Leo e o baterista Alexandre Barea, que foi o último a ingressar no conjunto. (...) Ainda com Basso nos vocais e no baixo, a banda seguia uma linha mais focadano Metal Tradicional, com direito a covers de Ozzy e Black Sabbath. "E nós andávamos sempre juntos, eu, o Miguel e o Flávio. Éramos inseparáveis, sempre no Bom Fim", revela Barea. A coisa ficou mais séria em uma segunda etapa da banda, já na era pós-Rosário, que trouxe um som mais cru e forte. A formação original foi desfeita, com a saída de Basso, que participaria depois do TNT e o d'Os Cascavelletes.
Igreja do rock
Garagens, porões, quartos, estúdios Havia vários locais onde as bandas ensaiavam, mas nenhum tão inóspito quanto dentro de uma Igreja. Na segunda metade da década de 80 até o início dos anos 90 algumas bandas de Porto Alegre contavam com a ajuda do "Padre Headbanger", que cedia o porão da Igreja para ensaios. A Igreja da Glória, inicialmente apenas uma capela, foi construída entre 1893 e 1894, tornando-se uma paróquia em janeiro de 1916. Localizada na Avenida Professor Oscar Pereira, abrigava ensaios de bandas como Sacrario, Alchemist, Gladiator, e talvez seja por isso que diziam que "o padre era meio surdo", brincou Robson Rachinhas, vocalista do Gladiator.
Thedy além do pop
"É um cara (Thedy Corrêa, da banda Nenhum de Nós) que, embora fizesse uma música muito mais pop, pesquisava muito. Então, ele foi uma pessoa que se mostrou aberta a essa coisa de querer explorar outros sons, mesmo que não fossem sons que a banda dele fazia, e ele viu na Rosa Tattooada essa oportunidade. Ele nos ajudou desde as primeiras demos, e foi o cara que encontrou o estúdio para gravarmos o primeiro disco, assumindo a postura de produtor. Mas, quando isso aconteceu, a Rosa Tattooada já estava no circuito de shows relativamente a um bom tempo" - depoimento de Beat Barea, da banda Rosa Tattooada.
Assustando os pais
"Meus pais sempre foram super religiosos, daqueles que vão todo domingo na igreja e tal. Eu tinha um cadernão, onde a gente escrevia as letras em inglês e eu anotava a tradução em português, para fixar alguns termos ou palavras que eu não conhecia. Um dia eu esqueci o tal caderno em casa, em cima da minha cama. Cheguei em casa à noite, após um ensaio, e os meus pais me chamaram para conversar, pois queriam saber o que a gente fazia nos ensaios Se acendíamos velas, sacrificávamos animais, invocávamos o 'coisa ruim' e por aí vai Surreal!" - depoimento de Regener Fortes, da banda Panic.
Fora do alvo
"Em 1987 eu e o amigo Jean entramos pelos fundos em um quartel do Exército que ficava próximo da minha casa, em Caxias do Sul. Nosso objetivo era conseguir cápsulas vazias de balas de fuzil FAL para fazer cinturões de balas como aqueles que os caras do Destruction usavam... sem comentários! Fomos até o campo de tiro, não achamos nada e felizmente os guardas não nos viram. Conseguimos sair sem ser vistos... mais sorte que juízo!" - depoimento de Rafael Pessi, da banda Game Over.
Zero Hora*