Antes de ver novos trechos do Guaíba despoluído - promessa da prefeitura da Capital para 2016 - os porto-alegrenses poderão ter limites demarcados para a prática de esportes na orla. Em discussão por entidades esportivas e poder público, a regulamentação dos espaços de esporte e lazer será tema de projeto de lei que deve ser proposto na Câmara dos Vereadores ainda este mês - em caso de aprovação, a prefeitura deverá demarcar de áreas específicas para diferentes práticas.
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O crescimento do número de adeptos de modalidades como o Stand Up Paddle entre as já consolidadas kitesurf, vela e jetski, fez com que surgisse a preocupação sobre um convívio mais organizado.
- A ideia é fazer o regramento dos espaços disponíveis para prática de esportes náuticos e terrestres para estimular uma convivência segura. Queremos evitar acidentes entre embarcações, reforçar o turismo e melhorar a condição para o cidadão usar a orla -- explica o vereador Kevin Krieger (PP), proponente da lei.
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A iniciativa pretende estabelecer medidas de segurança a serem adotadas pelos esportistas. Segundo Alexandre Maia Barbosa, presidente Associação Brasileira de Esportes de Praia (Abep), entre os pontos que poderão tornar-se obrigatórios para alguns esportes estão leashes (fitas que prendem a prancha no pé), coletes salva-vidas e a capacitação de instrutores.
As necessidades de cada modalidade já foram definidas. A próxima etapa é a revisão final do texto. Depois, a matéria tramita na Câmara Municipal. Em caso de aprovação, ainda será necessária sanção do prefeito José Fortunati.
Divisão de áreas seriam definidas por comitê
Arquiteto e urbanista da Secretaria Municipal de Urbanismo (Smurb) Marcelo Allet explica que o regramento contribuiria tanto para a segurança quanto ao convívio social. Estabelecer horários e áreas por modalidade, segundo ele, vai minimizar os impactos e melhorar a convivência.
- Os conflitos mais evidentes são entre jet-skis, pela velocidade, e o stand up pela vulnerabilidade. Mas há outras questões como o Stand Up entrar no canal de navegação, se afastar muito da orla e o kitesurf precisar de área grande para levantar voo. Futevôlei também pode ser perigoso onde tem criança brincando, e por aí vai.
O urbanista acredita que, com a revitalização da orla e o avanço da despoluição do Guaíba nos próximos anos, as pessoas devem resgatar o contato com o estuário. A legislação serviria para mediar conflitos não apenas na água mas também na areia. Haveria definição quanto aos usos das quadras na praia de Ipanema, disputadas por praticantes de vôlei, futevôlei e, recentemente, jogadores de beach tênis.
- Se essa demanda já existe em uma orla mal cuidada, imagina quando melhorar o cenário - pontua Allet.
Os locais apropriados para a prática de cada esporte serriam demarcados por um comitê, previsto na lei. Ele seria constituído por órgãos do município, entidades representativas das categorias esportivas náuticas e terrestres e a Capitania dos Portos. A fiscalização na beira da praia ficará a cargo da prefeitura. Já a fiscalização na água, é de responsabilidade da Marinha do Brasil.
- Quem discute
Associação Gaúcha de Jet Ski (GJS), Associação Brasileira dos Esportes de Praia (ABEP), Federação Gaúcha de Stand Up Paddle (FGSUP), Associação Gaúcha de Windsurfe (AGW), Associação Brasileira de Esportes Náuticos (Abena), Esportes a Remo - Kayak Trip Brasil, Clube Jangadeiros (Vela), Marinha do Brasil - Delegacia da Capitania dos Portos, Prefeitura Municipal de Porto Alegre (Secretaria Municipal de Urbanismo). Outras entidades nos ramos de turismo náutico, comércio, pesca e escoteiros participam da discussões.
O que pensam os representantes das entidades
Manuel Ruttkay Pereira - Comodoro do Clube Jangadeiros
"Como são praticados mais para dentro da costa e em regiões de clubes náuticos, esportes a vela não costumam apresentar muitos acidentes. Mas se fosse possível, deveria sim ser feito uma regulamentação específica por áreas, para dar mais segurança ao esportistas".
Rafael Geremia - Diretor da Federação Gaúcha de Stand-Up
"Quando a população descobrir o Guaíba vai virar uma bagunça. Por isso seria preciso exigir certificações de escola pela federação, para treinar melhorar as pessoas que ensinam. As pessoas que estão aprendendo teriam que usar leash e colete. Teria área com toda a estrutura, acesso para carros, praia limpa, rampa, tudo a cargo da prefeitura".
Paulo Augusto Bopp - Associado da Federação de Gaúcha de Beach tênis
"Disputamos espaço na área com o volei e o Futevôlei. Ter um espaço reservado na orla seria muito válido. Quando queremos usar no sábado pela manhã, alguém tem que chegar muito cedo para garantir espaço. Se tivesse um regramento, acho que iria ajudar no convívio entre os praticantes dos esportes".
Plauto Saraiva - Diretor Federação Gaúcha de Slackline
"Na beira da praia temos o colchão natural, tu cai e não se machuca. Mas nossa beira da praia é muito mal cuidada. Achamos seringa, caco de vidro, de tudo. Com esse debate, queremos melhorar a condição de praia".