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Na tarde da última quinta-feira, quem passava pela avenida Juca Batista, Zona Sul de Porto Alegre, estranhava o outdoor que dizia: "Botar camisinha corta o clima!". Era um erro: o painel deveria estar seguido de outros dois, terminando um diálogo que, na verdade, estimulasse o uso do preservativo na ação contra a aids promovida pela prefeitura.
Mesmo com o erro geográfico corrigido, a campanha continuou gerando burburinhos pelo conteúdo. "Isso é um verdadeiro tiro no pé", "Nem o papa diria isso" e "Essa discussão é bem importante e necessária, mas será que o lance é valorar as atitudes?", são alguns dos comentários que surgiram nas redes sociais.
Para o médico Ricardo Kuchenbecker, professor de Epidemiologia da faculdade de Medicina da UFRGS, isso significa que a ação pode estar dando certo, já que está "mexendo" com os jovens.
- Sabemos que os jovens acham que a camisinha atrapalha, por isso, uma comunicação que usa isso, que é franca e não idealista, pode, sim, ter impacto positivo e incentivar o uso da camisinha - avalia Kuchenbecker.
Na visão do médico, a linguagem usada é compatível com a dos jovens, que são o principal alvo das campanhas contra a aids, e pode dar certo enquanto estratégia de comunicação.
- Com a identificação, a mensagem pode encontrar eco e mudar o comportamento - conclui.
A avaliação da professora de Marketing e Comportamento do Consumidor na ESPM-Sul, Liliane Rohde, é um pouco diferente:
- Acredito que eles acertaram na linguagem, mas erraram no tom. A ironia, quando tem que ser explicada, reduz o efeito da mensagem.
Para ela, a campanha pode causar polêmica e chegar aos jovens, mas não necessariamente fazer com que mudem de hábitos. E exemplifica:
- Nos 80, tinha uma propaganda de guaraná com pipoca que fez muito sucesso e era cantada por todo mundo, mas não vendeu refrigerante, que era o objetivo. Então ser polêmica ou famosa não significa cumprir a sua meta - finaliza Liliane.
Placa foi retirada no final da tarde
Foto: Igor Carrasco/Rádio Gaúcha
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