
O cercamento repentino da Praça Júlio Mesquita, junto à Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, causou espanto em moradores e frequentadores da região. Antes uma grande extensão aberta, usada para chegar ou sair do Centro Histórico – e, nos fins de semana, como ponto de encontro –, a área pública agora intriga quem cruza os arredores por seu aspecto de zona proibida. Ela foi fechada há cerca de duas semanas pela prefeitura, que promete obras no local.
Com somente uma abertura, a praça acabou deixando de ser um ponto de integração para virar arapuca. Há quem entre e não encontre uma saída, há quem ache que não pode mais usar o espaço, há quem lamente o que considera a perda da praça. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu.
Leia também:
Usinas da prefeitura estão sem cimento asfáltico para tapar buracos
O que tem posto em xeque a obra de revitalização do Cais Mauá
– Pensei que encontraria uma saída do outro lado. Por que só tem aquela entrada? – questiona o metalúrgico Rodrigo Pereira, após dar uma volta pelo local sem perceber que estava sem saída.
Quem, como ele, desce nas paradas de ônibus em frente ao Gasômetro, agora precisa contornar a praça para acessar o Centro. A estudante Laura Seben, que passa pelo local diariamente, já perdeu as contas de quantas pessoas viu caírem na "armadilha" nas últimas semanas:
– Muita gente ainda entra ali. Não tem sentido isso que fizeram.
Para quem já se acostumou à novidade, a preocupação é outra. Tradicionalmente um local que abriga passeios de cachorros, rodas de chimarrão e pequenas reuniões musicais, a praça tornou-se um lugar inseguro. À noite, a escuridão impera, e ninguém se arrisca a usar o espaço. Moradores dizem que roubos a pedestres e carros aumentaram.
– Alguns vizinhos foram assaltados. Também já cansei de ouvir alarme de carro apitando de madrugada. Ninguém quer andar por aqui agora, especialmente a pé – afirma Flávio Marques, que trabalha em um bar em frente à praça.
Prefeitura promete áreas de esporte e recreação infantil
Segundo a Brigada Militar, as ocorrências na região não pioraram – teriam até diminuído após o cercamento. O comandante em exercício do 9° Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Porto Alegre, major Julio Cesar de Ávila, diz que se for observado um aumento da criminalidade nos arredores da praça, policiais podem ser deslocados para lá.
– Geralmente temos uma viatura nas proximidades. Mas estamos à disposição da comunidade se houver necessidade de mais segurança – garante Ávila.
Apesar de não haver placa indicando que ali estão sendo realizadas obras, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) informa que a Praça Júlio Mesquita está passando por um processo de reurbanização, e deve ser fechada em breve. A reforma faz parte do projeto de revitalização da orla do Guaíba.
A utilização, por enquanto, não está proibida, mas é desencorajada. A única entrada e saída do local seria proposital: é por lá que os trabalhadores da reforma vão chegar e sair. "Serão implementadas áreas de esporte e recreação infantil, além do manejo de vegetação, muito afetada em razão do temporal de janeiro. A previsão de conclusão da obra é setembro", informou a assessoria de comunicação, em nota.
Ainda não há data estabelecida para a colocação de placas informativas. Mas uma reunião do grupo de trabalho deve definir os detalhes nesta semana.