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A intenção de evitar o pagamento das passagens em dinheiro nos ônibus de Porto Alegre, adotando o bilhete eletrônico como única forma de ingresso nos coletivos, está nos planos da prefeitura. Mas sua implementação, ainda em fase de análises e avaliação, só deve começar a partir do ano que vem.
Anunciada pelo prefeito Nelson Marchezan em uma reunião com líderes empresariais na quinta-feira, a iniciativa também busca permitir o reconhecimento facial dos usuários dos cartões, utilizando a mesma tecnologia aplicada em coletivos na Região Metropolitana para identificar se o usuário de um cartão é também seu proprietário. Aumentar a segurança dos passageiros, desincentivando o roubo de dinheiro vivo, e inibir fraudes no uso dos cartões TRI são as razões por trás das medidas anunciadas.
– Através dessa exclusividade (da bilhetagem eletrônica), poderíamos retirar o uso de dinheiro nos ônibus, assim diminuindo a incidência de assaltos – afirmou o prefeito, em entrevista a Zero Hora.
Sobre a intenção de fotografar os usuários no momento do uso dos cartões, para coibir fraudes, Marchezan afirmou que não está propondo "nada de mais, nada de outro mundo", mas "algo que é implementado em cidades aqui do lado".
As mudanças sugeridas devem começar a tomar forma neste ano, mas ainda dependem de muitas discussões. É preciso definir quais serão os equipamentos, se todos os ônibus deverão adotá-los, se haverá mais postos ou formas de adquirir a passagem, como ficarão os cobradores, entre outras questões. À Rádio Gaúcha, o vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre, Sandro Abbade, afirmou ser contra qualquer demissão, definindo que "o papel do cobrador não é só de cobrar a passagem, mas de auxiliar os passageiros".
Em 2017, pelo menos, as propostas não devem se refletir no preço dos bilhetes.
– Neste ano, essa situação não vai ter uma relação nisso (valor das tarifas). Depois, sim, devemos ter muito mais dados para poder conversar sobre isso. Mas não tenha dúvida de que, durante este ano, vamos ter vários avanços – garantiu Marchezan.
Apesar de um futuro aumento nas passagens não ser descartado em função das mudanças, o prefeito avalia que a inibição a fraudes pode acabar compensando os gastos das empresas de ônibus, que deverão ter de arcar com os custos de implementação da tecnologia dentro dos coletivos. Ele reitera, porém, que os dados e as propostas ainda estão sendo analisados.
Questionada sobre as propostas da prefeitura, a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), que representa as empresas de ônibus, disse que não iria se pronunciar.
O prefeito aponta dois fatores que, segundo ele, podem facilitar a implementação de novidades como o pagamento exclusivamente eletrônico e a identificação facial dos usuários. O primeiro é que a gestão da bilhetagem eletrônica no transporte coletivo da cidade passou da ATP para a prefeitura, com o objetivo de dar mais transparência ao processo. O segundo fator é a possibilidade de os usuários carregarem o TRI com cartões de débito e crédito pela internet, conforme decreto assinado por Marchezan em 16 de janeiro, que deve estar à disposição dos passageiros em até 60 dias a contar da publicação.