Porto Alegre

Sem verbas

Porto Alegre terá obras da Copa 2014 depois do Mundial de 2018

Trabalhos estão parados ou em ritmo lento por conta de dívida da prefeitura com os fornecedores. Veja o estado de cada obra

Guilherme Justino

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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Na melhor das hipóteses, duplicação da Avenida Tronco ficará pronta em 2019

No estágio atual, já é impossível que todas as obras da Copa de Porto Alegre fiquem prontas a tempo do Mundial... da Rússia.

Paradas ou em ritmo lento por falta de pagamento – a prefeitura deve R$ 45 milhões a fornecedores –, as obras se arrastam. E uma delas, mesmo que os problemas financeiros terminassem hoje em um passe de mágica, ficaria pronta só em 2019: a duplicação da Avenida Tronco, considerada fundamental para desafogar o trânsito para a Zona Sul.

Sem recursos para bancar a retomada dos trabalhos, a administração municipal sequer prevê prazos para a conclusão, nem quer elencar prioridades. O secretário de Infraestrutura e Mobilidade, Elizandro Sabino, se limitou a dizer que as trincheiras das avenidas Ceará e Tronco estão entre os "maiores desafios".

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– É claro que isso traz prejuízos para a população, e ninguém gosta de ver uma obra parada, uma obra 90% concluída que não avança. Mas precisamos que as pessoas sejam parceiras da prefeitura e entendam. Nossa dificuldade é financeira – avalia o secretário da Fazenda, Leonardo Busatto.

Muitas dessas obras inacabadas prejudicam o trânsito, provocando desvios e piorando congestionamentos em locais já movimentados de Porto Alegre. Mas uma extrapola os problemas causados à movimentação na cidade: a Tronco.

Mais do que conviver com desvios que atrapalham o trânsito, moradores da Cruzeiro estão tendo de lidar com crateras abertas em meio às ruas, meios-fios com canos a céu aberto e água suja fluindo na frente das residências. O trecho da Avenida Tronco que teve as obras interrompidas no final do ano passado por falta de pagamento da prefeitura agora parece um cenário de destruição.

Há risco de o chão ceder em um dos lados da avenida, por onde poucos carros têm se arriscado a trafegar e nenhum ônibus se aventura a entrar. A rua virou vala – com encanamentos de água, gás, esgoto se destacando onde haveria haver calçadas. Moradores se arriscam a cair ao simplesmente entrar ou sair de casa. Não era assim até poucos meses atrás, mas os buracos foram se ampliando com o passar do tempo e a ação da chuva.

– Tudo bem que não seja possível completar as obras agora (por falta de acordo para algumas desapropriações), mas a gente precisa que a prefeitura pelo menos melhore o acesso de quem mora aqui. Não tem como viver no meio desses buracos, a gente não aguenta mais – diz Angélica Cunha da Silva, presidente da associação de moradores do local.

Para trabalhar, ir à escola, fazer compras, foi preciso improvisar "pontes" sobre os buracos. Em frente à creche comunitária Gostinho de Infância, um pedaço de porta faz as vezes de passarela para as mães e pais dos pequenos. Mesmo com os alertas de quem passa ali por perto, não são raros os acidentes.

– Já teve uma mãe que estava de costas, conversando, não se deu conta do buraco e acabou caindo. E um pai teve que pegar uma criança pelo braço para ela não cair também – relata a fundadora da creche, Andrea Pires Fernandes.

Das melhorias prometidas, os moradores ainda não puderam se beneficiar de nenhuma. Não há ciclovia no trecho, e as estações de ônibus só são encontradas adiante, onde parte das obras foi concluída. Há ainda reclamações quanto à remoção de campinhos de futebol e uma praça, que serviam como áreas de lazer onde hoje só há buracos.

– Estamos vivendo no caos, em um cenário de guerra. É esgoto, é buraco, é cano... nunca vi um negócio assim. O abandono é total, geral, e o pior é que a prefeitura não conversa – lamenta Lídio Santos, que há 26 anos mora na região.

A estimativa mais otimista da prefeitura dá conta de que, mesmo se as obras fossem retomadas imediatamente, a duplicação da Avenida Tronco só seria finalizada em fevereiro de 2019.



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