Houve um tempo em que cidades gaúchas se transformavam em um imenso autódromo. Mesmo em Porto Alegre, o povo ia em massa para as ruas ver seus ídolos em veículos de época adaptados para correr muito – chegavam a mais de 200 km/h em testes de velocidade.
Eram as corridas de carretera, expressão que significa "estrada" em espanhol. Os gaúchos copiaram dos "hermanos" argentinos o regulamento da categoria Turismo Carretera, realizando corridas de centenas de quilômetros por estradas sobretudo entre as décadas de 1940 e 1960.
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Parte dessa história foi resgatada na biografia Aristides Bertuol: o piloto da carretera n° 4, lançada para apaixonados por automobilismo na noite de terça-feira na sede do Classic Car Club, na zona norte de Porto Alegre. A obra reúne o acervo do piloto de Bento Gonçalves falecido em 1979, que conquistou 15 vitórias em 60 corridas.
Fabiano Mazzotti e Gilberto Mejolaro, autores do livro, explicam que o que caracterizava as carreteras eram a carroceria fechada e a obrigatoriedade de a marca do motor ser a mesma do chassi.
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A Capital sediou corridas importantes de até 500 quilômetros, como no chamado Circuito da Pedra Redonda, que passava pelos bairros Tristeza, Vila Conceição e Ipanema, na Zona Sul. A Avenida Farrapos também era uma referência: no GP de Porto Alegre, os pilotos largavam e chegavam na Farrapos, passando pela Sertório, Presidente Roosevelt, Cairu, Voluntários da Pátria e Ramiro Barcelos.
– Era muito mais do que a prática de uma mobilidade esportiva, era um acontecimento social de uma população, em que os pilotos representavam suas cidades. Tinha o Aristides Bertuol representando Bento Gonçalves, e aqui em Porto Alegre todo mundo lembra de Catarino e Julio Andreatta – observa o jornalista Fabiano Mazzotti.
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Quem presenciou as corridas, relata que eram apaixonantes – e igualmente perigosas. Mortes de pilotos e de torcedores levaram à proibição da modalidade nas ruas, impulsionando a criação do Autódromo de Tarumã, como lembra Oscar Fernando Leke, engenheiro e um dos grandes conhecedores do assunto na Capital. Na opinião dele, apesar dos riscos, as corridas na rua eram mais interessantes.
– A gente se reunia, ia para a pista ver os carros passarem e fazia torcida pelos pilotos prediletos. E tudo acompanhado de um bom churrasco e uma boa cerveja – lembra.
Serviço
Obra: Aristides Bertuol: o piloto da carretera n° 4 (232 páginas, produção independente)
Preço: R$ 90,00
Onde encontrar: Martins Livreiro, em Porto Alegre, e pelo site classicshow.com.br
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