
No 1º ano do Ensino Médio do Colégio Champagnat, em Porto Alegre, o currículo inflou em 2013. Além de aulas das 7h30min às 12h, os alunos passaram a encarar mais duas tardes de estudo diante da lousa eletrônica, das 13h30min às 17h10min. Em 2014, foi a vez do 2º ano implantar a carga horária semanal de 33 horas. No próximo período letivo, a novidade chegará ao 3º ano. E a escola já estuda fazer algo parecido nas séries finais do Ensino Fundamental.
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Iniciativas como a do Champagnat estão se disseminando na rede privada gaúcha. Em parte dos colégios particulares, os pais sempre tiveram a possibilidade de pagar um valor extra para manter as crianças ocupadas o dia inteiro - mas com atividades extracurriculares.
Agora, ainda que não adotem o modelo de tempo integral, os que os estabelecimentos estão fazendo é elevar a quantidade obrigatória de horas de aula, seja agregando um sexto período a cada jornada ou criando jornadas letivas adicionais no turno inverso. O fenômeno ocorre principalmente no secundário, devido à preocupação com a conquista de uma vaga na universidade.
- No início, achava cansativo e não tinha tempo de estudar, mas acabei me adaptando. Todo mundo entendeu que era importante ter mais aula. Com o Enem, a concorrência para entrar na faculdade é nacional - diz a aluna de 2º ano do Champagnat Ana Clara Teixeira, 15 anos, que teve de deixar o curso de inglês e a academia por causa dos novos horários.
Para tornar o ambiente mais adequado, a escola promoveu uma transformação nas salas de aula do Ensino Médio. Elas ganharam lousa eletrônica, tomadas para conectar notebooks, uma bancada com cadeiras mais altas ao fundo e pufes onde os estudantes podem relaxar entre um período e outro. As classes são em círculo, para facilitar um projeto ancorado nas atividades em grupo.
A vice-diretora educacional, Adriana Filipetto, afirma que o reajuste da mensalidade não acompanhou o acréscimo de aulas:
- Não foi algo que assustou a comunidade. Tivemos, inclusive, pais que optaram pela escola por causa da ampliação de carga.
Em outro estabelecimento da Capital, o Colégio Monteiro Lobato, o Fundamental tem aula no turno inverso um dia por semana, enquanto o Médio reforça a carga com um horário que se estende das 7h40min às 13h.
Além disso, a escola passa a oferecer em agosto uma nova modalidade no secundário: o aluno poderá passar três tardes por semana na escola, durante três semestres, e no final ganhar não só o diploma brasileiro, mas também o da High School canadense, o que abre portas para a entrada em universidades estrangeiras. Vinte estudantes aderiram.
- Vai ser uma rotina pesada, mas significa um diferencial no meu currículo _ observa um dos alunos, Pedro Feistauer, 15 anos.
- Dobra a despesa, mas é uma oportunidade única, que pode abrir a cabeça dele -acrescenta a mãe, Fernanda Bered.
Israelita estuda adoção do tempo integral para 2015
O Colégio Israelita, de Porto Alegre, pode se tornar no ano que vem uma das raras escolas particulares com ensino em tempo integral. A decisão sai em agosto.
- Estamos estudando a implementação há bastante tempo, não porque os pais estejam batendo à porta para pedir tempo integral, mas por uma crença nossa de que essa estrutura é mais efetiva - diz a diretora, Mônica Timm de Carvalho.
Segundo Mônica, a caminhada em direção ao tempo integral começou com a ampliação da carga horária obrigatória. Desde o 1º ano do Fundamental, os estudantes passam um ou dois dias inteiros por semana em aula. A avaliação é que esse sistema não é o ideal, pela carga elevada em alguns dias.
- Queremos fazer algo como o modelo americano, que tem aula mais ou menos das 8h às 15h30min, com intervalo de almoço. A carga horária vai chegar a 37 horas. Certamente vamos começar com um projeto piloto, em um ou dois anos, para ver o resultado, e expandir a partir daí - afirma a diretora.
O colégio investiu no aumento da área útil e acaba de abrir um restaurante de 200 lugares, para que as crianças possam almoçar na escola. A implantação significa também mexer na estratégia didática, usando o tempo extra para integrar disciplinas e desenvolver a resolução de problemas.
Com a atual carga ampliada de 33 horas, o Israelita já consegue trabalhar nessa linha. Os alunos de 5º ano, por exemplo, participam de um projeto para a publicação de um livro. Cabe a eles escrever a obra, viabilizá-la e editá-la. Larissa Strelow e Luiza Spunberg, ambas de 10 anos, estão na comissão de captação de parceiros. Vão fazer contatos com empresas para obter patrocínios:
- Vamos falar com nossos colegas para eles pedirem aos pais o cartão de conhecidos. Depois vamos ligar, marcar um horário para ir na empresa e apresentar o projeto, explicando que se participarem o logo da empresa aparece no livro - relata Larissa.
A diretora reconhece que implantar o tempo integral, com mais horas de aula, significa custos maiores. Mas espera que o valor agregado supere o impacto na mensalidade.
OUTRAS ESCOLAS
Colégio Rosário - Em 2011, como já fizera no 3º ano, expandiu a carga no 1º e no 2º anos do Ensino Médio, adicionando um período em cada manhã e introduzindo uma tarde de aulas por semana.
Colégio Sinodal (São Leopoldo) - Em lugar das 800 horas anos exigidas, implantou 1.280 no 6º e no 7º anos do Fundamental, 1.360 no 1º ano do Médio, 1.400 no 2º e 1.440 no 3º.
Colégio Marista Graças (Viamão) - No ano passado, mudou a estrutura curricular no Médio. O 1º ano passou a ter 33 horas semanais. Em 2014, foi a vez do 2º ano. São seis períodos pela manhã e aulas a tarde.
Rede La Salle - Está ampliando a carga no Fundamental e no Médio na Capital e na Região Metropolitana. Em média, as escolas tem 27 horas semanais, com dois dias de aula no turno inverso. Algumas unidades chegam a 30 horas.
Colégio Bom Conselho - Adotou 30 horas semanais na 7ª e na 8ª série, com dia de aula no turno inverso. O Ensino Médio também tem 30 horas, distribuídas por seis períodos diários.
Colégio João XXIII - Oferece quatro horas a mais no turno inverso, uma vez por semana, a partir do 5º ano do Ensino Fundamental.
Colégio Pio XII (Novo Hamburgo) - Carga de 33 horas, com um dia de aula no turno inverso.
Colégio Farroupilha - Aumentou as horas de aula para 29 no sexto ano e para 30 no 7º e no 8º. No 3º ano do Médio, houve acréscimo de 200 horas no ano, com aulas extras no turno inverso e em alguns sábados.