
Desde dezembro atuando em Santana do Livramento, com quatro anos de magistratura, Carine Labres causou alvoroço ao propor a realização de casamento gay num Centro de Tradições Gaúchas (CTG) e durante a Semana Farroupilha. Nascida em Lajeado, no Vale do Rio Taquari, entende que um magistrado deve contribuir para a sociedade, não se limitando às lides processuais no gabinete. Atual diretora do Foro municipal, Carine deu entrevista a ZH. Confira os principais trechos.
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Por que a senhora decidiu propor um casamento coletivo de gays e heteros em CTG?
O Judiciário organiza casamentos coletivos para pessoas com renda de até três salários mínimos, que desejam participar. São dois eventos no ano. O primeiro foi em março, no salão do júri. Pensei que o próximo poderia ser realizado em setembro, dentro de um CTG, numa homenagem à Semana Farroupilha, reunindo casais hetero e homossexuais.
A sua decisão provocou a reação de tradicionalistas.
A autoridade judicial deve dar voz às minorias. A Resolução 175, de maio de 2013, do Supremo Tribunal Federal (STF), diz que é vedada a recusa da celebração do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Mas por que num CTG?
A carta de princípios do tradicionalismo diz que a função de um CTG é justamente valorizar a família. Sem discriminações. Se não aceitarem, gostaria que me respondessem por que um casal do mesmo sexo não pode se casar dentro de um CTG. Se a resposta for convincente, sem filtros, vou aceitar. A ideia é garantir os direitos da minoria. Homossexualismo não é opção, é algo personalíssimo. Não se escolhe passar pela humilhação que perdura. A sociedade precisa trabalhar com a tolerância e o respeito.
Patrões de CTGs contrários à ideia dizem que um magistrado não pode obrigar...
Realmente, não. Mas queremos chamar a sociedade para a discussão do assunto. Os CTGs não podem se furtar ao que está acontecendo. Até o momento, um CTG aceitou a proposta.
Há algum casal gay inscrito?
Quatro demonstraram interesse. Três de mulheres e um de homens. Mas eles estão pensando a respeito, avaliando a exposição pública de se casarem num CTG, amadurecendo a questão. Não se definiram. A princípio, a cerimônia deve ocorrer em 13 de setembro, uma semana antes do desfile.
A senhora está preocupada com possíveis incidentes devido à posição contrária de tradicionalistas mais ferrenhos? Já ocorreram no passado.
Não. E não queremos que eventos como o do Capitão Gay se repitam. O que desejamos são relações respeitosas e de tolerância. Também pensamos atuar em outras áreas, como a dos crimes de agressões contra mulheres e de abusos contra crianças. Mexer com o conservadorismo é mexer com a sociedade.