
A luta de Maria Lúcia Streck contra o câncer terminou na manhã desta quinta-feira (18) em meio à mobilização de amigos para cumprir o desejo da historiadora: seguir o tratamento no lar e não voltar para o hospital. Por volta das 11h, Lu (como era chamada pelos íntimos) morreu em casa devido a complicações causadas pela doença.
Natural de São Borja, a gaúcha comemorou os 37 anos no dia 11 de março em um bar da Capital. Morava na Cidade Baixa, em Porto Alegre, junto com as três gatas - Ritinha, Pucca e Mia. Na batalha contra doença desde 2011, quando foi descoberto o câncer no ovário, Lúcia era conhecida pela alegria. Durante o tratamento, manteve-se ativa nas redes sociais, com posts sinceros e, geralmente, bem-humorados sobre a situação. Nesta quarta-feira, foi realizado um show de arrecadação de fundos para ajudar a custear os cuidados de Lu em casa - a historiadora havia voltado ao lar no dia 11 de junho, após um mês hospitalizada.
- O espetáculo também foi uma forma de celebrar a alegria da Lúcia, foi uma homenagem. Acreditamos que ela ficaria feliz com essa mobilização - afirma Alexandre de Santi, integrante do Conjunto Musical Gilez.
Formada pela PUCRS em História, Lúcia chegou a cursar jornalismo na Unisinos, mas não finalizou a graduação. Trabalhou como pesquisadora em produções de cinema e TV, como no documentário Passagem, de Jaime Lerner. Em Zero Hora, integrou a equipe da Redação e do Centro de Documentação e Informação do jornal, entre 2006 e 2010.
- Ela era agregadora. Todas as vezes que eu saía com ela, eu voltava pra casa com no mínimo mais três amigos novos - conta a jornalista Tatiana Cruz, próxima de Lúcia desde quando trabalharam juntas em ZH.
Em 2011, a historiadora descobriu o câncer por meio de um cisto no ovário. A partir daí, realizou procedimentos cirúrgicos, como a retirada do útero, além de iniciar a quimioterapia. Um ano depois, o tratamento havia finalizado e a situação estava controlada. Mas, no início do ano passado, a doença voltou no fígado e no pulmão, espalhando-se pela parte abdominal. O quadro se agravou no último mês, e a internação foi necessária.
Aos amigos, Lúcia contou que queria voltar ao aconchego de casa, o que serviu de estímulo para começar uma mobilização de arrecadação de fundos. O homecare (atendimento 24 horas por auxiliar de enfermagem) e os equipamentos e medicamentos necessários para mantê-la no lar ultrapassavam os R$ 350 reais por dia. Assim, iniciou-se uma campanha online, além de ações como brechós e o show.
Angelina Jolie retira ovários por medo de câncer
Gaúcho faz vaquinha para financiar tratamento de câncer nos Estados Unidos
Tratamento do câncer por imunoterapia ainda gera diversas incertezas
Magrão: o maloqueiro feliz que deu um carrinho no câncer
- Acho que cumpri meu papel como amiga ajudando na mobilização, assim como todas as pessoas que ajudaram - ressalta a amiga e professora Olenca Bazzan Nachtigall.
Para o padrasto Julio Cezar Aquino, a maneira como Lúcia sempre valorizou as amizades foi determinante para essa mobilização ocorrer:
- É uma perda triste. Pelo menos, essa história vai servir de exemplo para outras pessoas se mobilizarem em prol de alguém. É inspirador.
Lúcia deixa a mãe, Dionete Streck, o padrasto, Julio Cezar Aquino, e a avó, Hilda Streck. Outra parente próxima era a tia, Elba Barros Motta. O velório ocorre das 16h às 21h no Cemitério São Miguel e Almas.