
Situada entre Tavares e Mostardas, próximo ao km 85 da BR-101, está a Lagoa Bacopari, um manancial de água doce separado por quatro quilômetros do mar. No último sábado, o local foi cenário de uma aula de ecologia. Na cartilha, os organizadores falaram em preservação dos mananciais e deram o recado: cuidar da água antes que seja tarde.
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Dezenas de pessoas que participaram da 2ª edição da Caiacada - evento da ONG Anama com o projeto Taramandahy -, vieram de Porto Alegre, Litoral e cidades do entorno de Osório, como Maquiné, Barra do Ouro e Rolante. Muitos trouxeram equipamentos próprios. Outros, como a repórter, tiveram empréstimo gratuito da organização. A proposta era alertar para a necessidade de conservação da água doce, a partir de um evento náutico sem uso de meios de transportes que causem poluição.
Coordenador do projeto Taramandahy, que em guarani quer dizer "rio com muitas curvas", o ecólogo Dilton de Castro acompanhou o grupo e deu explicações técnicas sobre a formação geológica da lagoa, a mata nativa e o futuro deste ambiente natural. Formada a partir de um lençol freático com água da chuva, a lagoa está ali hoje, mas daqui a vários anos pode transformar-se em um banhado, explica Castro:
Lagoa Bacopari tem águas limpas e calmas no litoral gaúcho
- A morte de um rio é o nascimento de um banhado. É importante conhecer e cuidar para evitar uma crise hídrica como a de São Paulo. Sem conscientização, é questão de tempo para acontecer aqui o mesmo que se passa por lá.
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Apesar dos indícios de poluição, a Bacopari é uma das lagoas mais bonitas e limpas do Litoral, relata o barqueiro do Ceclimar, Osvaldo Machado. Na costa gaúcha, não tem uma lagoa que ele não conheça. Há 32 anos, é ele quem leva os pesquisadores da UFRGS para navegar pelos cursos dágua e colher dados em pesquisas de campo.
Visitante mensal da Bacopari, Machado conta que o local passa a maior parte do tempo despovoado, recebendo visitantes apenas no verão. Os campings e pousadas da cidade passam quase sempre vazios e lotam apenas neste período. Já na lagoa, o visual é quase sempre o mesmo.
- Muda só o nível da água, por causa da irrigação do arroz - relata Machado.
Falta de saneamento prejudica as lagoas
Além de irrigar as plantações, lagoas como esta servem para o abastecimento de cidades do entorno. Algumas delas, como a do Marcelino, em Osório, estão impróprias para banho por causa dos dejetos urbanos:
- Falta saneamento básico. O crescimento do turismo já é um fator que começa a gerar conflitos. Vivem 240 mil pessoas no entorno da bacia, e só 60 mil têm saneamento básico - explica Castro.
Um dos organizadores da caiacada, Tiago Lucas Corrêa explica que eventos desse tipo servem para atrair a atenção para a utilização das lagoas. Dali até Torres, segundo ele, são mais de 90 como a Bacopari.
- A nossa ideia é usar um esporte não poluente para sensibilizar em relação ao cuidado com estas riquezas, antes que desapareçam - diz o dono dos caiaques.
Amigo do homem e do verde
Na primeira parte do trajeto, os participantes encaram um trecho com águas agitadas e ondas médias. Perto das margens, a lagoa é rasa, mas ao avançar em direção ao centro, a profundidade aumenta, chegando a oito metros.
Após passar pela ponte que separa duas partes da lagoa, a travessia ficou facilitada pela ausência de vento. Neste trecho, o grupo realizou paradas rente à mata ciliar para conhecer particularidades da região. Na remada de 10 quilômetros, houve três "pit stops" educativos nos quais Dilton de Castro falou sobre juncos, bromélias, orquídeas e explicou que a função biológica das dunas é a filtragem e o reabastecimento da lagoa.
Iniciante, a empresária Ana Maria Rodrigues já conhecia o lugar e foi à remada motivada pela integração com o grupo e pela sensação de liberdade. Moradora de Tramandaí, deixou a caiacada pouco antes do fim.
- Não quis abusar. Decidi me preservar e guardar energia - brincou.
Diferentemente da empresária, o agrônomo Gustavo Martins e a arquiteta Camila Dias já tinham participado de outras caiacadas e remaram até o quilômetro final. Eles não conheciam o local e ficaram impressionados com o que viram.
- Achei o lugar lindo, adorei o evento e as informações - disse Camila.
Quem também curtiu o passeio foi o cachorro Tombinho, que acompanhou os donos a bordo de um caiaque. Ao desembarcar em terra firme, o cusco mostrou porque é um mascote diferenciado: adentrou na floresta, abocanhou uma latinha vazia e entregou para o dono colocar no lixo.