
Quem caminha pelo centro de Amsterdã, com seus canais em volta das charmosas casas antigas, pode não ver motivo para sair dali. Mas há vida além das paisagens mais célebres da capital holandesa. No bairro Overhoakes, na região norte da cidade, o cinema e a música estão representados em duas atrações vizinhas: o museu Eyefilm e a torre A'DAM.
Minha visita pela Amsterdã fora do circuito normal começou pelo museu Eyefilm. Se você é cinéfilo, é um passeio obrigatório. Difícil definir o formato do moderno prédio branco, cheio de curvas, que o abriga.
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Dentro, tudo sobre cinema: desde uma exposição permanente interativa (que inclui uma sala com projeções nas quatro paredes e totens em que o visitante pode se informar sobre a história dos filmes, escolhendo trechos para reproduzir) até exibições temporárias. Em dezembro, visitei uma exposição sobre filmes em celuloide.
O museu também conta com salas de cinema, onde há sessões de filmes alternativos e clássicos. Tem até exibições de filmes mudos, com direito a piano ao vivo para acompanhar.
Na frente do Eye, a mais nova atração de Amsterdã é dedicada à música. A torre A'DAM era a antiga sede dos escritórios da Shell. A empresa deixou o local, que foi transformado em um empreendimento temático.
Há, por exemplo, cinco andares de escritórios. Todas as companhias são ligadas à música, como gravadoras e fabricantes de instrumentos. No subsolo, a danceteria Shelter põe a torre para funcionar até o sol nascer. Vale a pena entrar no elevador com o celular na mão, pronto para gravar: até a viagem aos andares mais altos tem uma atração especial. As luzes do elevador se apagam e, pelo teto envidraçado, se vê todo o fosso que serve de caminho ao topo. Luzes coloridas se acendem e toca uma música eletrônica que converte o pequeno espaço em uma miniboate.
No 19º andar, o restaurante Moon é giratório, com uma vista espetacular da cidade. A ideia, de acordo com o site da torre, é que o local represente um vinil, que roda na vitrola. Acima, no 20º, fica o Madam, outro restaurante, mas com a diferença de se transformar em mais uma boate quando o sol se põe. E ainda há a opção de subir no terraço, ver Amsterdã lá de cima e, para os mais corajosos, subir em um balanço que, quando vai para frente, projeta-se além do limite da construção, deixando o passageiro "sem chão" por alguns instantes.
Deixar a rota por onde passam todos os turistas costuma trazer recompensas únicas. Se for a Amsterdã, aproveite enquanto o norte da cidade não tem o rótulo de parada obrigatória e, assim, suas atrações não são tão movimentadas.
- A visita ao Eyefilm pode ser planejada aqui
- Saiba mais sobre a torre A'DAM no site adamtoren.nl/site
Museu Van Gogh, a trajetória do gênio

Bem sinalizado, explicativo e organizado, o Museu Van Gogh, em Amsterdã, é dos programas obrigatórios que correspondem às expectativas. A vantagem é que, se você não aguenta passeios muito longos em museus, é possível visitá-lo em pouco tempo. Ainda assim, se quer contemplar cada quadro, atentando para os mínimos detalhes, há obras suficientes para mantê-lo ocupado por, no mínimo, um turno do dia.
Estive no museu para uma visita rápida em dezembro. A programação em Amsterdã era intensa, e a visita não podia se estender. Após cerca de uma hora e meia, saí com a sensação de que não faltou ver nada. Não pude saborear cada obra demoradamente, mas tive ideia da trajetória do gênio.
Há alguns fatores que auxiliam a "visita expressa" ao Van Gogh. As descrições dos quadros são curtas, mas trazem alguma curiosidade de quase todos eles. Cansei de visitar museus em que uma obra é esmiuçada em grandes textos explicativos enquanto o restante só é descrito por título, ano e material utilizado.
A disposição dos quadros nos quatro andares do prédio, instalado na Museumplein, praça que também abriga o Rijksmuseum e o Stedelijk, auxilia o visitante a entender as diferentes fases de Van Gogh. No térreo, junto à loja, uma série de autorretratos do artista orna uma linha do tempo que mostra os 37 anos de uma vida tumultuada e altamente produtiva do ponto de vista artístico. Me surpreendo com o curtíssimo período entre a decisão do holandês de tornar-se pintor até sua morte. Van Gogh foi artista por 10 anos.
O primeiro andar é dedicado às pinturas entre 1883 e 1889. Aqui estão as obras mais icônicas. O Vaso com 15 girassóis, parte da série de quadros em que Van Gogh retratou a flor, atrai uma multidão. Outro grupo se aglomera à frente do Quarto em Arles, representação das pequenas instalações do artista no interior da França.
A trágica história pessoal de Van Gogh pontua o segundo andar, onde estão expostas cartas do pintor ao irmão Theo, fiel companheiro até o fim. Os painéis detalham o sofrimento com os episódios psicóticos, incluindo área dedicada à vez que cortou a própria orelha após discussão com o amigo Paul Gauguin.
A última parte da exposição traz os incríveis últimos momentos da vida de Van Gogh. Após deixar uma clínica em que estava internado em Saint-Rémy, ele se muda para Auvers-sur-Oise, também na França, para ficar próximo do irmão. Em pouco mais de dois meses, pinta quase um quadro por dia até atirar no próprio peito. As obras são belíssimas, incluindo Campo de trigo com corvos, que já foi apontada como sua última, e, logo ao lado, Raízes de árvores, que as sucintas descrições do Museu Van Gogh me informam ser a mais provável candidata a pintura derradeira do gênio.
- Museumplein, 6, Amsterdã
- Ingresso: 17 euros para adultos.
- Horário de funcionamento: das 9h às 19h.
- Nas sextas-feiras, o museu fica aberto até as 22h.
Tour que mistura informação e entretenimento

Na Praça Dam, a principal de Amsterdã, Lee, a simpática guia, explica como a cidade foi batizada. Lembra que "Dam", em holandês, significa represa, e que o rio Amstel ("antes de ser nome da cerveja, já era nome do rio", brinca) passa por ali. Repete, algumas vezes, que é a represa do Amstel. Portanto, é a Amstel...
– Dam! – responde, quase em uníssono, o grupo.
– Holandeses são muito criativos para dar nomes – ironiza Lee.
O jeitão descontraído, que pontua com humor informações históricas de grandes cidades europeias, é a marca da Sandeman's New Europe, que começou, em 2003, a oferecer tours gratuitos. Funciona assim: o turista reserva seu lugar pela internet, e há um horário e local marcados para o início da caminhada. Ao final, opta se vai pagar ou não pelo serviço e o valor. É como uma gorjeta.
Hoje, a Sandeman's tem passeios por 18 cidades do mundo e se expandiu para Israel e EUA. Pode-se conhecer toda a área central de Amsterdã, ou, para algo mais específico, optar por um tour somente do Red Light District.
Os guias seguem a ideia do "infotainment", mistura de informação com entretenimento. Falam com naturalidade e profundidade sobre os temas. Lee informa desde os detalhes de como as prostitutas do Red Light District são contratadas e pagam impostos até o valor aproximado que cobram por um programa. Depois, mostra uma construção onde médicos faziam experimentos com cadáveres no século 17. No celular, aponta para a imagem de um quadro.
– Lembram deste? – indaga.
É a famosa Lição de anatomia do Dr. Tulp, uma das mais célebres obras de Rembrandt. Ele a pintou naquele prédio. Também fomos levados ao antigo bairro judeu, dizimado pela perseguição nazista e reconstruído em estilo moderno. Ao fim do passeio, a impressão de que aquele curto período foi suficiente para conhecer tanto da cidade quanto em três ou quatro dias caminhando a esmo. Os locais que contam com tours oferecidos pela Sandeman's podem ser conferidos aqui.
* O repórter viajou a convite de Gol, KLM-Air France, The Leading Hotels of the World e Sulamérica Seguros