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"Não fiquei com medo de enfrentar uma deficiência, mas de perder ele", diz mãe de criança com microcefalia

Em 2012, 175 crianças nasceram com microcefalia no Brasil. Um deles é Davi, filho da paulista Pamela Pavanelli, que descobriu a má-formação do bebê quando ele tinha dois meses

Camila Kosachenco

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ZH Explica: o que é e o que causa a microcefalia

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal

- Ele é tratado como um rei - descreve a mãe do pequeno Davi, três anos, diagnosticado com microcefalia.

É refutando qualquer olhar de piedade para o filho que a paulista Pamela Pavanelli, 23 anos, encara o problema. A má-formação do cérebro do bebê foi descoberta somente depois que ele completou dois meses de vida. Dois dias depois que o filho nasceu, Pamela soube que teve toxoplasmose durante a gravidez. A infecção é, comprovadamente, um dos fatores que podem provocar a condição. Em 2012, ano em que Davi nasceu, o país registrou 175 casos de microcefalia. Ontem, o Ministério da Saúde divulgou um novo boletim epidemiológico, que mostrou que o número de casos suspeitos da má-formação chegam a 1.761 em 2015.

Número de casos suspeitos de microcefalia sobe para 1.761

Depois de uma gravidez conturbada, marcada por diversos episódios de enjoo, náuseas e desmaios, Pamela passou por 15 horas de trabalho de parto para dar à luz o menino. Assim que ela viu o filho pela primeira vez, percebeu que ele era diferente, embora tenha nascido com o perímetro cefálico de 34 centímetros - o novo protocolo do Ministério da Saúde adota a medida de 32 centímetros para baixo como referência para analisar casos suspeitos da má-formação - e nenhum médico tenha suspeitado de microcefalia.

O comportamento muito quieto e parado em relação à experiência que teve com o filho mais velho, Mateus, hoje com seis anos, chamou atenção da mãe. Foi após muita peregrinação e insistência que, com uma tomografia, ela ficou sabendo que o cérebro do menino não havia se desenvolvido e era menor do que o normal. No momento em que recebeu o resultado do exame, Pamela nem teve tempo para digerir a notícia. Com a família envolvida em um problema de saúde do seu pai e diante de um diagnóstico totalmente desconhecido, Pamela teve de se manter calma, mesmo depois de ouvir do médico que o menino viveria de forma vegetativa, isso se conseguisse passar dos três anos de idade.

Com o resultado em mãos, a jovem iniciou a buscar por informações sobre o problema. Usou a internet para entender e lutar contra tudo aquilo que ouvira do especialista.

- Não fiquei com medo de enfrentar uma deficiência, mas de perder ele - diz Pamela, ao contar que recebeu apoio incondicional dos familiares depois de ser informada sobre a condição de Davi.

As dúvidas e incertezas foram prontamente substituídas por um grande envolvimento, que foi decisivo para a evolução da criança. Hoje, mesmo dependente da família, Davi consegue se expressar com sons e, de acordo com a fonoaudióloga que o trata, é questão de tempo para ele conseguir falar. Ainda sem caminhar, o menino faz fisioterapia semanalmente e poderá, um dia, caminhar sozinho, segundo os profissionais que o acompanham.

Mãe estudou enfermagem para atender ao filho

Junto a esses prognósticos positivos dos especialistas está a dedicação de Pamela. Há dois meses, ela se formou em um curso técnica em enfermagem para poder atender melhor o filho. Ela não mede esforços para levá-lo a pelo menos dois médicos todas as semanas. Além de todo o empenho, a mãe conta, em casa, com a ajuda do marido e do outro filho, que é um grande defensor do caçula.

- Ele ajuda a cuidar, pega fralda, roupa. Sabe quando o Davi não está bem. E ai de alguém falar um alfinete desse irmão dele.

Nem as dificuldades pelas quais passa fizeram Pamela desistir de encarar o problema. Para ela, o menino tem uma vida tranquila, a única diferença é que ele é cadeirante e toma uma série de remédios como relaxantes musculares, para ajudar no sono e evitar epilepsia.

Foi para disseminar a má-formação e excluir preconceitos e informações equivocadas que Pamela criou, há cerca de três semanas uma página no Facebook. Na rede social, ela compartilha um pouco da sua experiência e também notícias veiculadas sobre o crescente número de casos suspeitos da microcefalia no país. Segundo ela, que também alimenta um grupo fechado no site só com mães de crianças com a má-formação, há casos recorrentes de mulheres que têm abandonado os bebês com microcefalia e que desejam realizar aborto depois que sabem que podem gerar uma criança com a má-formação.

- Vão ter dificuldades sim, mas uma criança especial nada mais é do que um anjo que Deus mandou para que nós possamos cuidar - enfatiza.

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