
O espetáculo A Morte de Ivan Ilitch parte da obra de Leon Tolstoi, de mesmo nome, para criar uma narrativa que mescla a vida do personagem-título com referências da atriz-diretora, unindo Rússia e Minas Gerais. Realização do Núcleo Caixa Preta de SP, tem direção e atuação de Cácia Goulart. Serve-se de uma ambientação cênica de poucos elementos que se desdobram em múltiplas funções e de uma iluminação surpreendente e mágica, principal elemento de composição de imagens e criação de atmosferas.
>> "A Morte de Ivan Ilitch" estreia no Porto Alegre em Cena
>> Confira cobertura completa do 21º Porto Alegre Em Cena
Ao entrarmos no teatro, encontramos na boca da cena, em forma de semi-arena, o livro inspirador iluminado, em meio à luz difusa, criando um ambiente onírico completado pela trilha. A partir daí, a atriz solista compõe o espetáculo, calcado antes de tudo na palavra, para a qual empresta nuances de tons e registros vocais, compondo vários personagens, incluindo ela própria. Ao mesmo tempo, para acompanhar o tour de force verbal, Cácia busca criar ações com as quais se relaciona com os elementos da cenografia e do figurino e ainda estabelecer uma relação direta com o público. Aqui podemos observar o uso de pausas e silêncios às vezes densos e intensos e, em outras, repetitivos e lineares.
Dona de vocalidade potente e de recursos interpretativos fortes, a atriz ressente-se, porém, do acúmulo de funções a que se propôs, incluindo a direção e a dramaturgia, que divide com Edmilson Cordeiro. Embora se encontrem no espetáculo momentos de beleza ímpar tanto no texto quanto nas imagens compostas pelos movimentos em conjunto com a luz, a dramaturgia mostra-se confusa, tornando a duração do trabalho bastante estendida. Novas escolhas poderiam ser feitas, cortando, talvez, algumas sequências. Isso valorizaria a narrativa e minimizaria a sensação de vários finais que o espetáculo apresenta.
A peça encerra temporada nesta quarta, às 18h, na Sala Álvaro Moreyra, com ingressos esgotados.
* Atriz e professora do DAD/UFRGS