
No dia em que completou 26 anos de emancipação, Faxinalzinho não promoveu confraternizações entre a comunidade. Desde a morte de dois irmãos agricultores, abatidos no fim de abril por indígenas que bloqueavam uma estrada em protesto pela demarcação de terras, o município de 2,5 mil habitantes perdeu o clima para comemorações.
Todas as atividades foram canceladas e a população vive nesta segunda-feira um feriado - em alusão ao aniversário da cidade - de ruas vazias, silêncio e recolhimento no interior das casas.
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Com agricultores e índios acuados, o ambiente é de aparente tranquilidade. Desde a prisão de cinco caingangues na sexta-feira - todos suspeitos de participação no assassinato dos colonos -, não ocorreram mais conflitos ou bloqueios de estrada.
O efetivo na Brigada Militar em Faxinalzinho foi reduzido. Entre sexta-feira e sábado, cerca de 70 homens garantiam a segurança. Já nesta segunda-feira, o número caiu para 30, com apoio do batalhão de Erechim. Entre a comunidade, existe temor de retorno da violência quando "a poeira baixar" e mais policiais deixarem a pequena cidade do norte do Estado.
Há 15 dias, em desdobramento do ambiente belicoso, cerca de 700 estudantes estão sem aulas.
- Na terça-feira teremos uma reunião com a Secretaria de Educação. Acredito que vamos retomar as atividades a partir de quarta-feira - explica Elisabete Groth Perszel, diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Faxinalzinho.
Cerca de 360 famílias de caingangues vivem na reserva Votouro, de 3,4 mil hectares, já demarcada e de exclusividade indígena. Eles alegam que seus ancestrais habitaram um pedaço de terra contíguo de mais 6 mil hectares. Por isso, dezenas de indígenas estão acampados nessa localidade, conhecida como Votouro Kandoia, para pressionar pela demarcação e anexação às demais áreas que já lhe pertencem. O procedimento resultaria no despejo de 170 famílias de pequenos agricultores.
Presidente da Associação de Moradores de Faxinalzinho, Ido Marcon afirma que, caso não haja uma solução para o conflito na reunião prevista para ocorrer no Ministério da Justiça no dia 22, os agricultores irão apresentar ações judiciais para garantir a manutenção da posse das terras.
- Temos convicção de que são áreas nossas, com títulos. Entendemos que, pela lei, não é permitido fazer ampliações de reservas indígenas - afirma Ido.
A versão é rebatida.
- São áreas que foram habitadas pelos nossos antepassados antes de os governos fazerem reforma agrária em territórios indígenas. É por isso que temos o direito - diz Maximino Reis, membro da comunidade caingangue de Votouro.