>> No total, a disputa agrária deixou pelo menos dois mortos e seis feridos no Rio Grande do Sul em menos de um ano:

- É uma angústia ver essa escola vazia.
O desabafo é da diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Faxinalzinho, Elisabete Groth Perszel, depois de quase duas semanas sem aulas. Fechado depois das tensões entre índios e colonos no norte do Estado explodirem em duas mortes de agricultores, o colégio deve acabar com o período de férias forçadas na terça-feira.
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A reabertura será decidida na tarde desta sexta-feira em uma reunião proposta pelo governo federal que busca reconciliar indígenas e produtores. Com o retorno dos 370 alunos, a Elisabete sabe que terá um problema a mais: impedir que as marcas da violência se reproduzam no microcosmo escolar.
São 51 estudantes indígenas concentrados nas turmas das séries finais do Ensino Fundamental. Os alunos, com idades entre os 12 e 17 anos, são grandes o suficiente para saber o que aconteceu - e uma das filhas de um dos agricultores assassinados no dia 28 estuda no local.
- Os alunos mais velhos são a principal preocupação, porque eles sabem o que está acontecendo. Participam mais diretamente do conflito - diz uma pedagoga do colégio.
Para a professora, que pediu para não ter o nome divulgado, a escola está vivendo um dilema:
- Não sabemos como as crianças vão agir na sala de aula ou no recreio. Quem já trabalhou em uma escola sabe que não tem como ter 100% de controle o tempo todo. Sempre vamos ter que intermediar um conflito.
A diretora Elisabete partilha da mesma sensação:
- Nunca tivemos problema. Mas agora a gente não sabe o que pode acontecer.
O professor da faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Sérgio Franco explica que o pior que se pode fazer em um momento de conflito é ignorar a realidade:
- Não é fácil, mas se a situação for ignorada, abre-se um caminho para a violência interna e para o preconceito. Tem que trabalhar com essa realidade para minimizar o impacto na convivência.
Do lado indígena, o cacique caingangue do acampamento Candoia, Deoclides de Paula, diz saber que o conflito acaba repercutindo nas salas de aula, mas que tem conversado com os alunos para que não haja problemas:
- Não estão com medo de que haja retaliação.
A representante da Secretaria Estadual da Educação na região, a professora de Geografia Graciela Regina Pauli, afirma que o governo está acompanhando o caso:
- Vamos avaliar a partir da observação da volta. Se houver situações que precisem de interferência, buscaremos auxílio.
Com um neto e um sobrinho estudando na escola, Ido Marcon, presidente da associação de moradores de Faxinalzinho, conta que antes das mortes as crianças conviviam normalmente. Agora, assim como outros moradores da cidade, tem medo do que pode acontecer:
- Jovens são imprevisíveis, eu não sei o que passa na cabeça deles