Suspensas há uma semana, desde a morte de dois agricultores em conflito com indígenas, as aulas nas escolas municipais e estaduais de Faxinalzinho seriam retomadas normalmente nesta segunda-feira - porém, a expectativa da prefeitura do município não se concretizou. A sensação de medo derramada sobre a região desde o acirramento da disputa por 2,7 mil hectares de terra fez com que pais, apreensivos pela segurança dos filhos, não liberassem as crianças para o colégio.
Pela manhã, as escolas chegaram a abrir as portas e parte dos estudantes assistiram às aulas. Porém, em função da baixa adesão - a prefeitura da cidade estima que menos de 40% dos alunos compareceram -, as atividades escolares foram, novamente, interrompidas. E, agora, por tempo indeterminado.
- Tentamos fazer o transporte, mas a preocupação dos pais é muito grande e, por isso, eles não mandaram seus filhos. Não há confiança na segurança e isso nos força a suspender as aulas, sem previsão de serem retomadas - afirma o prefeito de Faxinalzinho, Selso Pelin.
Quase que a totalidade das crianças e adolescentes que se deslocaram aos colégios na manhã de hoje moram na área central do município. A situação mais delicada é daqueles que vivem na região interiorana e dependem da rede de transporte escolar.
- Como não tem transporte, não tem como ter aula - explica a diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Faxinalzinho, Elisabete Groth Perszel.
Conforme Elisabete, pais chegaram a comparecer às instituições durante a manhã para ressaltar que não liberariam os filhos. Enquanto isso, o clima de apreensão se espalha pela região. Os indígenas pedem a presença do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e prometem novas ações caso nenhuma medida seja adotada. Em vídeo postado no Youtube na última quinta-feira, Valério de Oliveira, uma das lideranças caingangue, disse:
"Até a semana que vem (essa semana), os índios estão prontos para ir para a estrada e isolar os municípios de novo. Se o ministro não vier dar uma garantia aos índios sobre a portaria da Reserva Candoia, vamos juntar mais 5 mil índios e, aconteça o que acontecer, vai ficar a critério do ministro. Se ele não tomar providências, vai acontecer derramamento de sangue e vai haver mortes".
O cacique Deoclides de Paula também ressaltou que, nesta segunda-feira, não há qualquer bloqueio em estradas.
- Vamos ver que proposta o ministro tem para a gente, o povo indígena do Rio Grande do Sul, e vamos planejar o que fazer - disse.
Em coletiva de imprensa na última quarta-feira, Cardozo criticou o radicalismo entre indígenas e agricultores e disse que a posição do Ministério da Justiça é de ação na busca pela conciliação. Nesta segunda-feira, a assessoria de imprensa do Ministério disse que o caso de Faxinalzinho está sendo tratado pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
