
A semana começa com o fortalecimento de propostas radicais entre os índios para resolverem a disputa de terras com os agricultores, uma consequência da prisão de lideranças caingangues do acampamento de Kandóia pela Polícia Federal (PF) na sexta-feira. Os indígenas foram detidos suspeitos da morte a tiros e pauladas dos agricultores e irmãos Alcemar, 42 anos, e Anderson de Souza, 26 anos, em Faxinalzinho, cidade agrícola no Norte do Estado. As mortes aconteceram no final de abril. O fim de semana foi marcado por conversas intensas entre os caciques envolvidos na luta pela terra.
Leia mais:
Adiamento de reunião com ministro mantém clima de tensão
Como vivem índios e colonos nas terras em disputa no RS
Comunidade de Faxinalzinho teme que violência chegue às escolas
Entre os presos está o cacique Deoclides de Paula, 42 anos, considerado um moderado no xadrez das lideranças envolvidas na disputa agrária com os colonos. A principal proposta radical que ganhou força foi a desintrusão - que significa a retiradas à força das famílias de agricultores por grupos de guerreiros.
A ameaça da desintrusão foi usada muitas vezes por Deoclides, mas, nas discussões internas, ele sempre defendeu a ideia como último recurso. O defensor mais ferrenho tem sido o cacique Leonir Franco, do acampamento de Passo Grande do Forquilha, uma área disputada com os colonos entre as cidades de Sananduva e Cacique Doble, no norte do Estado, e o cacique Roberto Carlos Santos, do acampamento do Rio dos Índios, em Vicente Dutra, pequena cidade na barranca do Rio Uruguai.
- No fim de semana, procuramos nos aconselharmos com os velhos da tribo e trocamos ideias com os guerreiros. A conclusão que chegamos é que, para manter o respeito, as lideranças precisam dar uma resposta forte ao que aconteceu - comenta Ireni Franco, pai de Leonir e articulador dos acampamentos indígenas na região de Passo Fundo.
Ireni disse que a proposta da desintrusão foi defendida com entusiasmo pelos jovens durante o fim de semana. Na manhã desta segunda-feira, ele ainda afirmou que à noite os índios deverão decidir se irão fechar as estradas em Sananduva. O cacique Roberto Carlos Santos também teve um sábado e domingo de muitas reuniões.
- Convencer os guerreiros que temos de conversar e não agir com força não é fácil, eles estão cansados de esperar por uma solução do governo. Depois das prisões, ficou muito difícil de conversar sobre negociação com os índios. Tudo indica que caminhamos para uma tragédia - acredita Santos.
Panela de pressão
Diferentes dos caciques das reservas indígenas oficiais, as lideranças dos acampamento de índios envolvidos em conflitos agrários com os agricultores decidem as suas ações em reuniões reservadas. Conforme o que é decidido, eles simplesmente montam um calendário e colocam em prática, sem prestar contas a ninguém. No meio da semana, em algum lugar do Rio Grande do Sul, as principais lideranças das áreas em litígio irão se reunir, confirmou Santos.
- Vai ser uma semana muito tensa. Índios e colonos precisam conversar para evitar radicalização - sugere Sidimar Luiz Lavandoski, coordenador de Conflitos Agrários da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul).
A estratégia da Fundação Nacional do Índio (Funai) é fortalecer as lideranças dos acampamentos para evitar o crescimento dos "cabeças quentes", como são chamados os jovens que pregam a desintrusão das áreas. Na manhã desta segunda-feira, Roberto Perin, coordenador regional da Funai em Passo Fundo, disse que foram tomadas duas medidas:
- A primeira é que estamos articulando a defesa dos índios presos em Faxinalzinho. A segunda é que estamos trabalhando no convencimento das lideranças para irem à reunião em Brasília (prevista para o dia 22).