
A bala perdida que matou a faxineira Eliana do Prado dos Santos também atingiu o futuro de seus 11 filhos. Hoje, 11 anos depois do crime, um dos órfãos foi assassinado, três foram presos, duas estão desempregadas e o caçula abandonou os estudos. Dos que trabalham, apenas uma completou o Ensino Médio.
A família, acompanhada durante um ano por Zero Hora, é um retrato das falhas na rede de proteção às crianças e aos adolescentes. Para os filhos de Eliana, os anos de descaso do Estado resultaram em histórias de abandono, crime e tristeza.
DUAS ÓRFÃS ESTÃO DESEMPREGADAS
Depois de oito anos, órfã achou a família pela Internet
Sem emprego, com três filhos e o marido preso, Andriele do Prado dos Santos, 21 anos, decidiu abandonar Seberi, onde viveu por oito anos, e retornar à cidade natal, Passo Fundo. Na bagagem, além de roupas e móveis, a órfã colocou seu pertence mais valioso: a esperança de um futuro melhor.
Depois que a mãe morreu, quando tinha 10 anos, Andriele passou pela casa de três irmãos até 2004, quando mudou-se para a casa do namorado, quatro anos mais velho. Um ano depois, com 13 anos, partiu com ele para Seberi, a 170 quilômetros de Passo Fundo. Lá engravidou pela primeira vez, aos 16 anos, e teve mais dois filhos.
Andriele em sua casa em Seberi, antes da mudança para Passo Fundo
Foto: Diogo Zanatta, Especial
Em outubro de 2012, o marido dela foi preso por roubo e encaminhado ao presídio de Frederico Westphalen. A jovem conta que estudou até a 5ª série e nunca teve um emprego fixo:

- Não consegui trabalho nem como faxineira.
Depois de oito anos sem contato com os parentes, Andriele decidiu procurar a família. Em outubro de 2013, encontrou o perfil de um sobrinho no Facebook e voltou a falar com os irmãos. Foi convencida pela família voltar a Passo Fundo, onde atualmente mora com a filha de quatro anos. Os outros dois filhos, de um e cinco anos, ficaram aos cuidados da sogra, em Seberi.
Luciane passou anos com depressão
Hoje com 31 anos, Luciane do Prado dos Santos tenta retomar a vida paralisada pelo crime e pela depressão. A dona de casa vive na vila Recreio com o companheiro e os cinco filhos. Era para sua segunda filha que a avó preparava uma mamadeira quando morreu.
Luciane após a morte da mãe. Atualmente, preferiu não ser fotografada
Foto: Jean Pimentel, Agência RBS

- Nunca superei a morte da minha mãe, é um assunto muito dolorido - resume Luciane.
Ela teve o primeiro filho ainda adolescente, com 16 anos, e contou com a ajuda da mãe para criar o menino. Os irmãos relataram que ela passou anos em depressão após o crime, tendo de usar medicação, e por isso não conseguia emprego até o último contato com a reportagem, no início do ano.
CAÇULA ABANDONOU A ESCOLA
Ariel não quis mais estudar
O caçula de Eliana, Ariel Molinari, 17 anos, é o único filho que a viúva teve com o segundo marido, Pedro Molinari. Depois da morte da mãe, o pequeno foi criado pelo pai, que na época trabalhava como peão em lavouras, e por uma madrasta.
Ariel um ano após a morte da mãe e atualmente
Foto: Montagem com fotografias de Tadeu Vilani e Diogo Zanatta
Conta que deixou a casa do pai porque não se acertava com a madrasta e foi criado por um padrinho, chamado de seu Chico. Na adolescência, decidiu mudar-se para a casa do meio-irmão Cristiano, onde permaneceu até o início deste ano. Recentemente, segundo a família, o jovem deixou a casa do irmão e abandonou os estudos.
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