
Há pouco mais de um mês, o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, iniciou as operações do aguardado Instrument Landing System 2, ou simplesmente, ILS 2. O equipamento, que permite pousos e decolagens em meio à neblina, tem cumprido com as expectativas de diminuir em até 50% os transtornos no aeroporto. Desde o dia 21 de junho até esta sexta-feira, o Salgado Filho esteve fechado por 7h15min, redução significativa frente às 19h15min do mesmo período do ano passado.
Nestes primeiros 30 dias de operação, a Capital teve seis dias de nevoeiro forte, segundo a Somar Meteorologia. Desses, em três o ILS 2 não foi suficiente, e o Salgado Filho precisou interromper as operações durante o início da manhã.
Isso porque o sistema só é eficaz quando a neblina está a até 400 metros da cabeceira da pista - com o ILS 1 a visibilidade só era possível a até 800 metros -, distância mínima exigida para que o piloto tenha contato visual e possa pousar com segurança. Do contrário, a aterrissagem não é autorizada.
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Na avaliação do piloto aposentado e professor da faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, Claudio Roberto Scherer, o ILS 2 não pode ser considerado a solução definitiva para o Salgado Filho. Ele explica que o sistema é eficiente dentro da sua margem de 400 metros, mas que em casos de neblina muito cerrada, não adiantará, e o aeroporto precisará ser fechado até que as condições se restabeleçam.
- As operações melhoram com certeza. Mas é preciso levar em consideração a intensidade dessa neblina, e quanto mais forte, menos provável que o ILS 2 consiga operar - salienta Scherer.
Outra questão apontada por Scherer é quanto à homologação das aeronaves que pousam no Salgado Filho. Além de autorização da Agência Nacional de Aviação (Anac), os pilotos devem estar treinados para usar a tecnologia. Aviões de menor porte e executivos, por exemplo, podem não ter os requisitos para operar com o ILS 2 e precisariam do sistema anterior, o ILS 1.
Simulador mostra as dificuldades de pousar com neblina no Salgado Filho
A solução definitiva para o problema da neblina no Salgado Filho seria o ILS 3. Este modelo permite o pouso no grau de cerração mais fechada. Em todo o mundo, apenas 10 aeroportos usam o sistema, entre eles, o Heathrow, em Londres, e Aeroporto Internacional de Amsterdã Schiphol, que chega a ficar 15 dias sob nevoeiro constante. A Anac nem sequer considera o uso da tecnologia.
Em uma década, mais de 1,1 mil horas sem pousos e decolagens
O início das operações do ILS 2 no Salgado Filho foi uma verdadeira novela. Prometido ainda em 1997, o equipamento só começou a ser instalado em setembro de 2011. As obras foram concluídas em dezembro do ano passado. Enquanto o ILS 2 não saía do papel, o aeroporto enfrentou centenas de horas fechado.
Entre 2004 e 2014, foram exatas 1.117 horas e 36 minutos de operações interrompidas, a maioria delas, em razão da neblina - ainda que a Infraero não forneça informações precisas sobre o motivo do fechamento. O ano em que o aeroporto esteve mais tempo sem ter pousos e decolagens foi em 2008, quando ficou fechado por 197 horas e 18 minutos.
Historicamente, os meses de maio e junho são os mais castigados pela neblina. Em maio do ano passado, o aeroporto chegou a ficar fechado por 42 horas. Este ano, foram 28 horas sem funcionar no mês que antecede o inverno.