
Juntas há seis anos, a jornalista Vivian Fiorio, 33, e a diretora financeira Camila Ribeiro de Souza, 31, decidiram ingressar no Cadastro Nacional de Adoção no final de 2011. Levaram cinco meses para concluírem o processo de habilitação e declaram aceitar até duas crianças de zero a quatro anos, independentemente de raça ou sexo, com deficiência e HIV.
- Não sabíamos que adotar crianças com HIV era uma coisa tão rara. Por isso, disseram que nosso filho viria rápido - explicou Vivian.
E veio. Em menos de um mês elas estavam com uma menina de dois anos em casa. A menina foi abandonada no hospital pela mãe biológica, moradora de rua e dependente química. Sem realizar o pré-natal e encaminhada à casa de saúde em trabalho de parto, a genitora acabou infectando a menina.
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Encaminhada a um abrigo, a menina ainda foi privada do contato com outras crianças - passava dias em um "chiqueirinho", brincando sozinha - e proibida de usar pratos e talheres da casa - tinha apenas uma mamadeira, onde bebia leite e tomava suplementos alimentares -, pois os cuidadores temiam que isso transmitiria o vírus.
- Tudo o que ela sofreu foi por causa do HIV. Se eu pudesse voltar no tempo, a adotaria desde que saiu do hospital - lamenta Vivian.
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A jornalista conta que muitas pessoas questionaram sua decisão em ter adotado uma soropositiva, pois argumentam que ela sofrerá preconceitos.
- Eu respondo que ela terá de vencer muitos preconceitos. Ela irá sofrer preconceito por ter duas mães e por ser negra. As pessoas têm preconceito por qualquer coisa, não é isso que vai impedir nossa felicidade - afirma a mãe.
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Um ano depois de adotar a menina, o casal decidiu ingressar de novo no Cadastro Nacional de Adoção. Com isso, ganharam outro filho: um menino cuja história é semelhante à da irmã.
Filho de uma moradora de rua dependente química e portadora de HIV, o menino foi abandonado no hospital. Exposto ao vírus, ele foi adotado com cinco meses. As mães ainda não sabem se ele foi infectado, pois o exame conclusivo ainda não foi realizado, mas relatam que o resultado não fará diferença na família.
Casal frequenta grupos de adoção para divulgar informações sobre o HIV
O mesmo processo foi vivido pela professora Alessandra Jardim Marangoni Moita, 41 anos, moradora de São Leopoldo. Mãe biológica de dois meninos, ela e o marido decidiram adotar uma menina exposta ao HIV há três anos.
Abandonada em um hospital do Rio de Janeiro, a menina foi levada pelos pais adotivos aos 23 dias. Recebeu tratamento para filhos de soropositivas e, aos 14 meses, realizou um teste que comprovou a não infecção.
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- Deu negativo, mas estávamos preparados para qualquer resultado - afirmou Alessandra, que passou a ser referência em HIV em grupos de adoção.
Desde que adotou a filha, ela e o marido participam desses grupos presencialmente e por internet para divulgar informações sobre o vírus e incentivar a adoção de soropositivos.
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