Caninos inferiores podem medir até 10cm (Foto: Carlos Macedo)
O ICMBio e o Ibama também lançaram a tática da ceva para facilitar o abate. Na beira de um mato, é oferecido um banquete de milho debulhado aos javalis, os grãos escorrem de uma lata pendurada numa árvore. Quando as manadas se aproximam para comer, entra em ação o atirador, posicionado a 60 metros de distância, oculto numa guarita camuflada. Nelson Carvalho dá instruções de tiro (Foto: Carlos Macedo)

Aumentaram as estratégias para tentar conter o avanço do javali, apontado pelo Ibama como um dos cem piores predadores exóticos do mundo. Neste ano, na região da fronteira gaúcha, foram introduzidos dois novos métodos: o alçapão e a cevagem, que usam iscas de milho para atrair o porco selvagem.
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A caça com armas de fogo e cães, no entanto, é a mais praticada - de forma legal ou clandestina. Sabujos e javalis machos se atracam em lutas brutais, as quais resultam em mortos e feridos. Caçadores chegam a pôr coletes nos cachorros. Usam borracha de pneu ou couro para tentar evitar que sejam destripados ou degolados pelos caninos dos javalis - os inferiores podem medir 10 centímetros.
- O javali é inteligente e brabo. Já vi um deles correr atrás de um cachorro, que fugiu para não morrer - diz um veterano caçador, sem se identificar.

Em busca do cão ideal, experimentaram o pit bull, uma fera que não foi páreo para o cachaço ou barrasco - como chamam o macho dominante de presas salientes. O mais eficaz, por enquanto, é o dogo argentino. Em Santana do Livramento, cruzaram o dogo com o galgo, para aliar o vigor do primeiro com a velocidade do segundo.
Como a caça não tem resolvido, além de expor cães e javalis a crueldades, foram criadas outras formas de captura e abate. Uma delas é a jaula, uma armadilha oval, instalada no campo, por iniciativa do Instituto Chico Mendes e do Ibama. Uma dessas arapucas funciona na Estância São Marcos, em Rosário do Sul. Quando o javali penetra nela, atraído pelas cocheiras de farelo e água, a portinhola se fecha. Outro chamariz é colocar uma fêmea na cilada. Assim que ela entra no cio, os namorados felpudos aparecem, cheios de segundas intenções, e caem na esparrela.
Instrutor de tiro ensina a abater
O pecuarista Nelson Della Justina Carvalho, 34 anos, de Santana de Livramento, é um dos instrutores de tiro credenciados pelo Exército. Está montando o estande para receber os primeiros alunos, mas acha que alguns desistirão devido à burocracia para a compra de arma e obtenção da licença.
- Pode demorar até três anos para receber arma e munições - lamenta.

Nelson decidiu colaborar adestrando atiradores depois de ter a fazenda invadida por javalis, que comeram 250 cordeiros e arrasaram as plantações de arroz e milho. A partir de 2008, percebeu danos ao ambiente, pois o perdigão sumiu e as emas não ganharam filhotes (os ovos teriam sido devorados).
- Quando os filhotes de veado e tatu nascem, os javalis também comem - diz Carvalho.
A burocracia também desgosta o presidente do Clube Oriental de Tiro de Livramento, Mateus Josué de Lima Effell. Ele abriu uma loja de artigos para caça ao javali, mas os fregueses se queixam das altas taxas e das exigências na documentação.
- Para certas coisas, é preciso viajar a Bagé, a 200 quilômetros de distância - reclama Mateus.
LICENÇA PARA ABATER
O abate do javali está autorizado desde janeiro de 2013 pelo Ibama, mas de forma restrita e sob condições
- O interessado deve entrar no site do Ibama (ibama.gov.br) e preencher o cadastro técnico federal (CTF). Não pode ter pendências legais e ambientais.
- A cada trimestre, deve enviar um relatório das atividades (número de javalis abatidos ou capturados, quantas saídas fez atrás dos animais e onde andou).
- A cada caçada, deve fazer uma "declaração de manejo", relatando onde esteve, com coordenadas geográficas do lugar.
- Os relatórios devem ser enviados à sede do Ibama, em Porto Alegre. Ainda não é possível remetê-los online.
- Pela norma do Ibama, o javali poderá ser perseguido, caçado com armas de fogo e capturado em armadilhas.
- Quem descumprir as normas será excluído do programa.
Regras e custos para a caça com armas de fogo
Se o abate envolver arma de fogo, o interessado terá de se submeter às regras do Exército, além do cadastro no Ibama.
- Será regido pelo Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R 105), do Exército, que abrange caçadores e atiradores.
- Terá de obter o certificado de registro (CR) do Exército, que leva em torno de nove meses para ser liberado. A documentação completa custa aproximadamente R$ 1 mil.
- De posse do CR, o caçador poderá adquirir uma arma de calibre liberado a civis, como a 12 semiautomática, cotada em R$ 4,2 mil.
- Após um ano de CR, poderá importar um fuzil de uso restrito, mais potente, que vale R$ 12 mil. A tramitação pode demorar dois anos, desde a autorização do Exército à liberação da arma pela Receita Federal.
- Para completar a habilitação, terá de ser filiado à Federação Gaúcha de Tiro e Caça (R$ 200 por ano) e a um clube de caça (cerca de R$ 200 de anualidade).
- O Estatuto do Desarmamento e a Polícia Federal não interferem na caça ao javali.
Fontes: Ibama e Clube Oriental de Tiro, de Santana do Livramento.
* Zero Hora