
Para reviver a história de Cachoeira, município do Recôncavo Baiano que foi cenário de conquistas históricas nos séculos 18 e 19, não é preciso recorrer a livros e retratos antigos: basta percorrer as ruas da cidade. Palco de batalhas importantes - como a de 25 de junho de 1823, que é considerada a primeira vitória do país na Guerra da Independência -, o lugar respira história em todos os cantos.
A arquitetura típica do Brasil Império figura praticamente por todos os lados - ruas, becos, lojas e casas. Não à toa, Cachoeira foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1971 e passou a ter o título de Cidade Monumento Nacional.
Situado às margens do Rio Paraguaçu, o município alcançou seu ápice econômico quando o porto era utilizado para o escoamento da produção agrícola de toda região, por volta de 1800. A expressiva presença de africanos e europeus no período escravista resultou no atual sincretismo religioso da cidade, que conta com diversas igrejas católicas e cerca de 50 terreiros de candomblé.
Foto: Rafael Martins, divulgação

Além dos atrativos históricos, a cultura local também está presente no conhecimento dos moradores e na gastronomia local. Terezinha de Jesus Oliveira da Silva, 78 anos, por exemplo, vende doces feitos à base de frutas típicas da região como carambola, caju, laranja da terra e tamarindo. Conhecida como Terezinha do Doce, ela sabe detalhes de fatos e pontos históricos da cidade, assim como boa parte dos outros cachoeirenses.
O fato de haver poucas opções de hospedagem prejudica a cidade na hora de receber turistas. Cachoeira, porém, fica a apenas 110 quilômetros de Salvador, o que facilita a visita de um dia por ali.
O desafio, agora, é incluir de vez o município no roteiro turístico do Estado. Potencial nos quesitos história e cultura não faltam.
Palco de festa internacional da literatura
Prova do potencial turístico da cidade é que, desde 2011, o município sedia anualmente a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica). E mais: a escolha para ser palco da feira que recebe até 30 mil pessoas em cinco dias não foi aleatória.
Um dos organizadores e curadores do evento, Emmanuel Mirdad, revela que Cachoeira surgiu como nome estratégico devido ao apelo turístico e histórico. A localização no Recôncavo Baiano também contribuiu, já que a região carecia de um evento cultural do porte.
- O sucesso de uma festa literária depende da vivência do público com o lugar, então em uma cidade muito grande não funcionaria - afirma Mirdad.
A gratuidade de toda a programação da Flica - que inclui shows na praça, painéis, palestras e atividades para crianças - é um dos diferenciais do encontro. A diversidade nas mesas de debate também chama a atenção. Não raro, escritores locais debatem algum tema com convidados internacionais.
O evento é realizado sempre em outubro e já figura entre as principais festas literárias do país.
VALE VER
Casa de Câmara e Cadeia Pública
Localizada no limite da parte plana de Cachoeira, posição estratégica para proteger o prédio das enchentes do Rio Paraguaçu, foi construída entre os anos de 1698 e 1712. Por duas vezes, chegou a ser sede do Governo Legal da Província. Ali, Dom Pedro I foi aclamado Regente e Defensor do Brasil, em 1822. O prédio abriga a Câmara Municipal de Cachoeira e funciona como galeria e museu na parte interna, onde era a cadeia.
Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário
Localizada entre a Rua Ana Nery e a Praça 13 de Maio, a Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário leva o nome da santa padroeira do município. A igreja se destaca pela riqueza de seu interior, que conta com imagens, telas, alfaias, sacrário de prata e revestimento de azulejos historiados.
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De suas torres piramidais, também revestidas de azulejo, é possível apreciar a vista de quase toda a cidade de Cachoeira e parte de São Félix.
Conjunto do Carmo
Foto: Rafael Martins, divulgação

Formado pelo convento e pela igreja da Ordem Terceira do Carmo, fica na Praça da Aclamação. A construção é de 1715, em estilo barroco. O interior da igreja é revestido de ouro e painéis de azulejos portugueses, abrigando também imagens de madeira de Macau. Atualmente, é ocupado por uma pousada e pelo centro de convenções.
Ponte Imperial Dom Pedro II
Foto: Rafael Martins, divulgação

Um dos cartões-postais da cidade, a ponte foi inaugurada em 1865. A estrutura é composta de ferro e lastros de madeira importados da Inglaterra. Foi uma das principais obras de engenharia da América do Sul à época.
Museu Regional de Cachoeira e Sede do Iphan
Situado na Praça da Aclamação, o museu está alojado em uma mansão colonial dividida em dois pavimentos. O sobrado foi uma das mais ricas e importantes residências baianas e pertenceu a diversas famílias de Cachoeira até ser doado ao Iphan.
O acervo é composto por mobiliário colonial, além de contar com registros fotográficos e edições da primeira metade do século 20 dos principais jornais da Bahia.
*A repórter viajou a convite da Oi