
Ao apresentar em 2015 seu primeiro longa-metragem de ficção, Beasts of No Nation, o serviço americano de streaming Netflix apontou para um caminho com potencial para provocar grande impacto na indústria audiovisual. O drama sobre o menino transformado em soldado na guerra em um país africano foi lançado simultaneamente na plataforma e ganhou exibição limitada nos cinemas para se credenciar à disputa de prêmios. O modelo de multilançamento não era a grande novidade, mas sim a entrada em cena de uma corporação com cacife para atrair atores e diretores de prestígio em projetos que, em um futuro próximo, já não teriam como principal foco para circular pelo mundo o engessado circuito das salas de cinema.
Após Beasts of No Nation, a Netflix, no entanto, não alcançou em seus longas de ficção o mesmo sucesso que colhe com os bons seriados e documentários que produz. Investiu, por exemplo, em filmes inexpressivos estrelados por nomes como Adam Sandler.
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A régua foi, então, elevada. Para 2017, o serviço anunciou uma safra de produções que terá como grande destaque, em 2018, The Irishman, filme de gângster de Martin Scorsese com um elenco dos sonhos: Robert De Niro, Al Pacino, Harvey Keitel e Joe Pesci.
E é um cineasta brasileiro que dá a largada. Fernando Coimbra, do excelente thriller O Lobo Atrás da Porta (2013), assina Sand Castle, trama ambientada no Iraque em 2003, durante segunda Guerra do Golfo. Com estreia na Netflix dia 21 de abril, a trama tem no elenco Henry Cavill, o atual Super-Homem.
Em 26 de maio, será exibido War Machine, com Brad Pitt, que também tem a guerra como cenário, mas em tom de paródia. O astro vive um general da Otan no Afeganistão que tem seu trabalho contestado por um jornalista. A direção é de David Michôd (The Rover: A Caçada), e também estão em cena Ben Kingsley e Anthony Michael Hall. Para 28 de junho, a plataforma anuncia Okja, do celebrado diretor sul-coreano Bong Joon-Ho (O Hospedeiro e Expresso do Amanhã), com Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal e Paul Dano, entre outros nomes. A trama fantástica tem como protagonista uma garotinha (Ahn Seo-Hyun) que tenta impedir que seu melhor amigo, um animal gigante chamado Okja, seja raptado por uma poderosa empresa multinacional.
Para dezembro, está agendada a estreia da ficção científica Bright, de David Ayer (Esquadrão Suicida). A história protagonizada por Will Smith, ao lado de Joel Edgerton e Noomi Rapace, tem cenário em um universo alternativo em que humanos, elfos e fadas convivem em harmonia. Mas essa paz está ameaça por criaturas malignas.
Essa caminhada da Netflix pode – segundo previsões entusiasmadas em Hollywood – levar a Netflix a ganhar seu primeiro Oscar de melhor filme, com The Irishman. O serviço investiu mais US$ 100 milhões para garantir os direitos da produção, que destaca um pouco conhecido matador da máfia (Robert De Niro) suspeito do assassinar o líder sindical Jimmy Hoffa (Pacino), cujo corpo nunca foi encontrado. Scorsese, o cineasta cinéfilo, anda tão entusiasmado com esse novo horizonte que exagerou no final do ano passado dizendo que o cinema tal qual ele conheceu e se apaixonou está fadado à extinção. O diretor acredita que o encantamento coletivo de outrora diante da tela grande tem seu impacto hoje diluído na overdose de imagens às quais o público está exposto. O cinema atual voltado ao grande público, para Scorsese, está cada vez mais parecido com um frenético parque de diversões.