
Depois do espetacular tributo que Wim Wenders prestou à coreógrafa alemã Pina Bausch em Pina (2011), com um dos melhores usos do 3D já vistos no cinema, outro grande nome da dança contemporânea é homenageado em Gaga – O Amor Pela Dança. Com direção de Tomer Heymann, o documentário em cartaz na Capital ilumina a trajetória do bailarino e coreógrafo israelense Ohad Naharin, que destacou-se internacionalmente nos anos 1970 e 1980 trabalhando em Nova York nas companhias de Martha Graham, Maurice Béjart e Alvin Ailey. Na década de 1990, Naharin voltou a Israel para dirigir a Batsheva Dance Company e fazer do grupo um dos mais prestigiados do mundo.
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O título do filme faz referência ao gaga, estilo criado e difundido por Naharin e adotado tanto por profissionais, por seu alto nível de exigência e criatividade, quanto, paradoxalmente, por amadores, de crianças a idosos, dado seu caráter simples e intuitivo. Basicamente, o gaga caracteriza-se pela improvisação de movimentos. É mais uma linguagem corporal do que propriamente uma técnica. Naharin, por exemplo, diferentemente das escolas tradicionais, baniu os espelhos da sua área de trabalho, pois acredita que o instinto deve se impor à busca pelo movimento visualmente perfeito e harmônico.
Sem mirar na inventividade formal de Pina, a proposta de Gaga é plenamente cumprida. Com imagens de arquivo, depoimentos de ex-dançarinos da companhia e registros atuais de Naharin, hoje com 64 anos – e aparentando muito menos –, o documentário conta a história de um bailarino improvável. Nascido no kibutz de Mizra, norte de Israel, Naharin foi sempre apaixonado por levar seu corpo ao limite, não com exercícios e esportes tradicionais, mas seguindo movimentos intensos e aleatórios.
Depois de uma temporada no exército, procurou, aos 22 anos, a Batsheva disposto a ser dançarino profissional, apesar de nunca ter estudado os pilares básicos do balé clássico. Era um talento nato e, digamos, selvagem. Martha Graham, célebre coreógrafa americana, o viu em Israel e o convidou para trabalhar com ela em Nova York. Considerado um fenômeno por nomes como o gigante bailarino russo Mikhail Baryshnikov, por sua versatilidade de movimentos, sua beleza física e por espelhar em seu corpo força e suavidade, Naharin nunca foi de criar amarras. Tinha seu conceito de dança a expandir e logo partiu em carreira solo com sua própria companhia, ao lado de sua mulher, a também bailarina Mari Kajiwara. O casal foi junto para Israel, onde Naharin fez a Batsheva consagrar seu gaga na dança moderna contemporânea – algumas de suas mais célebres coreografias e performances são lembradas no filme.
Naharin é mostrado como o bailarino virtuoso, coreógrafo exigente com seus comandados e também como personalidade política – entrou em atrito com o governo de Israel quando tentaram lhe censurar um trabalho e esteve no front da guerra do Yom Kippur, do qual saiu militante crítico à beligerância como política de governo. É um homem apaixonado pela família e pelo trabalho.
A intensidade e a integridade com que regrou suas experiências na vida revelam Naharin como um personagem complexo: é, ao mesmo tempo, reservado e performático, intuitivo, ao criar um estilo de dança sem regras, e perfeccionista, por impor aos bailarinos o cumprimento rigoroso de suas fisicamente exigentes criações.
Gaga – O Amor Pela Dança reserva ainda um belo momento às plateias brasileiras, embalado por Caetano Velosos cantando It's A Long Way, faixa do disco Transa (1972).
GAGA – O AMOR PELA DANÇA
De Tomer Heymann
Documentário, Israel/Suécia/Alemanha/Holanda, 2015, 103min. Em cartaz no Guion Center e na Sala Eduardo Hirtz