
Capítulo importante da história da arte: no fim do século 16 e ao longo de todo o 17, a República Unida dos Países Baixos transforma-se em uma potência capitalista, e entre Amsterdã, Haia e os campos coloridos da nação prosperam o comércio, a ciência e diversos artistas maiúsculos - Johannes Vermeer (1632 - 1675) e Rembrandt van Rijn (1606 - 1669) entre eles.
Posteriormente, esses pintores, juntamente com alguns arquitetos, escultores e escritores, seriam identificados como responsáveis pela Era de Ouro da arte holandesa (a Dutch Golden Age). Seus trabalhos estão hoje, entre outros museus, no Rijksmuseum, visita obrigatória para turistas de passagem por Amsterdã.
A obra - e a vida - de Vincent van Gogh (1853 - 1890) rendeu estudos e admiração universal, assim como os traços icônicos de artistas como Piet Mondrian (1872 - 1944) e M.C. Escher (1898 - 1972). Mas você se surpreenderá ao tomar contato com algumas caras - e vozes - que saíram da Holanda para despontar na cultura pop universal.
Para além, muito além das artes visuais, a Holanda nos deu - e hoje trabalha de maneira exemplar na sua preservação - histórias impressionantes como a de Anne Frank (1929 - 1945), judia alemã radicada em Amsterdã e talvez a mais conhecida vítima do Holocausto. Vêm de lá rostos largamente difundidos na cultura pop, do Rutger Hauer do filme Blade Runner (1982) à musa Carice van Houten, atriz de longas como A Espiã (2006) e Operação Valquíria (2008).
Da literatura do século 18 ao eurodance, das vanguardas artísticas dos anos 1910 aos videoclipes contemporâneos. Dê uma olhada no resumão destas duas páginas: é o civilizadíssimo país do norte europeu, atualmente lugar de liberalidade comportamental e transportes da moda, que a série sobre a cultura dos países que visitarão Porto Alegre examina nesta semana.
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Hieronymus Bosch (1450 - 1516) veio antes, Vincent van Gogh (1853 - 1890), depois. Mas foi a Dutch Golden Age do século 17 que marcou definitivamente a arte holandesa. As paisagens de Jan Both (1610 - 1652), Jan van Goyen (1596 - 1656) e Jacob van Ruisdael (1628 - 1682) e as naturezas-mortas de Abraham van Beijeren (1620 - 1690), entre tantos outros (alguns nascidos na vizinha Bélgica), são menos difundidas do que as obras-primas de Vermeer (1632 - 1675) e Rembrandt (1606 - 1669), mas igualmente históricas. Frans Post (1612 - 1680) e Albert Eckhout (1610 - 1665) são considerados os primeiros pintores a retratar o Brasil, trazidos ao país pelo conde Mauricio de Nassau, que governou a colônia holandesa no nordeste do país entre as décadas de 1630 e 1640.
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Antes de estrelar Blade Runner (1982), o ator holandês Rutger Hauer já havia formado, com o diretor Paul Verhoeven, uma das parcerias mais profícuas do cinema. Foi graças a cineastas como Verhoeven (que em Hollywood dirigiu RoboCop e Instinto Selvagem), Fons Rademakers (de O Ataque) e Jos Stelling (O Ilusionista) que o cinema holandês conquistou espaço no circuito internacional. Curiosidade sobre a produção televisiva do país: o Big Brother, ícone dos reality shows, foi criado na Holanda pela produtora Endemol.
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Famke Janssen (a Jean Grey de X-Men), Jeroen Krabbé (de O Fugitivo), Thekla Reuten (Na Mira do Chefe) e Yorick van Wageningen (O Novo Mundo) são alguns dos atores holandeses com carreira estabelecida em Hollywood. Nenhum, no entanto, com a projeção de Carice van Houten, atriz de diversos longas-metragens e da série Game of Thrones. Esta é para o consumo irônico (mas nem por isso com menos projeção internacional): a atriz Sylvia Kristel (1952 - 2012), a eterna Emanuelle dos filmes eróticos, é holandesa.
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A casa simples em que Annelies Marie Frank, a Anne Frank, viveu escondida em Amsterdã entre 1942 e 1944 hoje é um dos museus mais visitados de toda a Europa. Não é para menos. Os diários da judia alemã que nascera em 1929 e se mudara para a Holanda com a família em 1933, para fugir do nazismo, foram publicados em 1947 e se tornaram um dos documentos fundamentais do Holocausto. O Diário de Anne Frank (1959), de George Stevens, é possivelmente o filme mais conhecido sobre sua história, mas são inúmeras as produções (de televisão, documentários etc.) sobre o episódio. Anne Frank morreu em 1945, no campo de concentração de Bergen-Belsen, para onde foi levada após ter sido descoberta um ano antes.
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Usualmente associada à liberdade comportamental, a Holanda é uma nação aberta - em vários sentidos. Tome-se a produção musical como exemplo: vêm de lá expoentes da música eletrônica, do eurodance oitentista (Vengaboys e 2 Unlimited, entre outras bandas) aos DJs-celebridades do século 21 (Tiesto, Hardwell, Armin van Buuren). As referências são válidas para entender um pouco mais do país que, no futebol, veste cor de laranja: os holandeses costumam ser festeiros - e rir de si próprios, o que contradiz o comportamento padrão de alguns de seus vizinhos (e dos brasileiros, a bem da verdade).
O Brasil no horizonte
O Quatrilho concorreu ao Oscar em 1996. O Que É Isso Companheiro?, em 1998. Os dois representantes brasileiros perderam a estatueta de melhor filme estrangeiro para longas holandeses - respectivamente, A Excêntrica Família de Antônia, de Marleen Gorris, e Caráter, de Mike van Diem. Antes, a Holanda vencera a estatueta da mesma categoria por O Ataque, de Fons Rademakers, em 1987. Vem da Holanda, igualmente, uma série de curtas-metragens premiados no Oscar - o primeiro deles foi Glass, de Bert Haanstra, em 1960.
TOP 10
Ícones culturais holandeses:
Um hit: Venus, do Shocking Blue ("Baby, shes got it", lembrou?).
Um filme: Louca Paixão (1973), de Paul Verhoeven. Em 1999, foi eleito pela Nederlandse Filmacademie o melhor longa holandês do século 20.
Uma polêmica: O filme holandês de terror A Centopeia Humana (2009), de Tom Six, que chegou a ser exibido no Fantaspoa.
Um movimento artístico (para além da Dutch Golden Age do século 17): De Stijl (1917), de Piet Mondrian, Vilmos Huszár e Bart van der Leck.
Uma obra-prima (literária): Max Havelaar (1860), de Multatuli.
Uma obra-prima (visual): Moça com Brinco de Pérola (1665), de Vermeer, que
inspirou o filme homônimo (com Scarlett Johansson).
Outra (obra-prima visual): Ronda Noturna (1642), de Rembrandt.
Duas grandes mulheres: Aagje Deken e Betje Wolff, autoras do romance A História da Senhorita Sara Burgerhart (1782).
Dois irmãos: Alex e Eddie van Halen, holandeses que fundaram a banda Van Halen nos EUA.
Um autor pop: Anton Corbijn, diretor de videoclipes e do filme Control (2007), sobre Ian Curtis, da banda Joy Division.