
Nesta sexta, um levantamento publicado por ZH mostrou que o preço dos ingressos de shows em Porto Alegre teve um aumento de 264%, enquanto a inflação no mesmo período foi de 64,9% na Capital. Analistas de mercado e especialistas indicaram que o dólar, a meia-entrada e o leilão feito com as produtoras são as principais causas dessa distorção. E o assunto levantou uma questão: como é calculado o preço de um ingresso de show?
- É um dos mercados mais complexos que existem. Não é ingresso de jogo de futebol, que são sempre 11 para cada lado e uma bola - compara Rodrigo Machado, sócio-diretor da Opinião Produtora.
O que ele quer dizer é que calcular o preço do show de uma banda X não é necessariamente igual ao de organizar o do artista Y, e que são muitos os fatores que entram na conta: passagem aérea, hospedagem, mídia, variação cambial e cachê do artista, entre outros. Para efeitos de comparação, Machado diz que "trazer o Bob Dylan para o Opinião seria muito mais barato do que organizar o show de uma banda de pop rock nacional em um estádio ou no Pepsi on Stage", por questões de infraestrutura.
Para ganhar dinheiro com um show, as produtoras baseiam-se em três fontes, explica Gustavo Sirotsky, especialista de entretenimento da Engage Eventos: 60% vêm da bilheteria, 20% de venda de bebidas e alimentos e outros 20% de patrocínio, mais ou menos.
- Para chegar a uma conta que dê lucro, tem que fazer com que o preço do tíquete seja maior que a despesa. O produtor calcula um preço que já leva em conta o desconto que terá que ser dado - explica, apontando a importância da meia-entrada nessa matemática complicada.
O proprietário da Abstratti Produtora, Ricardo Finocchiaro, faz eco à responsabilidade dos gastos impostos pelo preço das passagens aéreas e dos hotéis (o que tem direta relação com o dólar), mas ressalta outro fator: o público que bandas nem tão populares ou já em decadência têm no Brasil:
- O cachê das bandas em todo o mundo subiu e, ao contrário do que acontecia nos anos 1990 e 2000, as estrangeiras não cobram menos para ao Brasil, cobram mais. Por saberem que temos grandes públicos aqui, bandas europeias que costumam se apresentar para 400 pessoas, colocam 1 mil aqui.
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Um ponto levantado por Finocchiaro e citado por todos os produtores escutados pela reportagem é o peso dos impostos brasileiros. Segundo ele, o governo "mais atrapalha do que ajuda". Somada a isso, o sócio-diretor do Opinião aponta a distorção causada pela entrada de produtoras menores no mercado, algo também citado pelo produtor Fábio Nunes, entrevistado para a matéria publicada nessa sexta-feira.
Esses novos players do mercado, por terem uma estrutura menor, estratégias diferentes (pagar mais caro por um show que pode servir como porta de entrada no mercado exterior) ou por não terem experiência no show business, por vezes, bancaram cachês fora da realidade. Naturalmente, o mercado inflacionou.
- Tem empresas que prostituíram o mercado, essas produtoras novas. Os caras têm esse folego, querem entrar no mercado internacional, é estratégico, alguma coisa. O artista internacional de grande porte não tem cachê fixo, ele tem um valor mínimo. Eu vou ter que apresentar para o cara vários dados: minha média de ingressos, o que eu acredito que vai ter de público, se vai ter patrocínio, os lotes, os meus custos etc. Aí, ele vai dizer "ok, aprovado esse teu orçamento". Daqui a pouco, a produtora B, minha concorrente, apresenta a mesma estrutura, só que, por uma série de fatores, ela consegue apresentar um custo menor para o cara - explica Machado.
Essa realidade se dá apenas nos maiores shows. Com artistas menores, a relação entre produtores ou até mesmo o contato direto com o artista podem facilitar as coisas. Nos demais, a atração é de quem vencer a concorrência:
- É algo maluco, mas é assim. Não tem como fugir desse leilão. Mas isso não é culpa do empresário brasileiro, é como funciona o mercado americano. É o próprio manager do artista que estimula - conta Carlos Konrath, diretor-presidente da Opus Promoções.