Gustavo Brigatti
Todo mundo já foi o Batman. Em trocentos títulos lançados desde a era dos 8-bits. E, convenhamos: é fácil. Vestido o capuz, com o cinto de utilidades à disposição, resta poucas dúvidas sobre o que fazer. Batman – The Telltale Series lança um intrigante e bem-vindo novo olhar sobre o Homem Morcego.
O game é um típico produto da Telltale. Quem já jogou ou conhece os outros títulos da desenvolvedora (como os baseados nas séries de TV Game of trones e The walking dead) não vai encontrar muita novidade no que se refere ao formato e mecânica – a saber: jogo episódico cuja interação se dá através de quick time events e algum exploração pelo cenário via point-and-click.
Seu texto, no entanto, não tem nada de óbvio.
O Batman da Telltale vence, logo de cara, ao dividir o protagonismo do jogo entre o herói mascarado e seu alter ego, Bruce Wayne. O primeiro capítulo, lançado no início de agosto, sugere um jovem Wayne ainda em início de carreira, tentando construir sua reputação junto à sociedade e às autoridades ao mesmo tempo que apoia o amigo Harvey Dent na eleição para prefeito de sua amada cidade.
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É aí que mora a engenhosidade do roteiro da Telltale. Qual a melhor solução para os problemas de Gotham City? Os métodos pouco ortodoxos, algo violentos e à margem da lei de Batman, ou um poder constituído e legítimo, livre de corrupção e compromissado com o futuro representado por Dent? É uma decisão complicada, que fica ainda mais difícil de ser levada quando se é Bruce Wayne – em quem ainda arde o desejo de vingança pela morte dos pais, mas financia a campanha de Harvey.
No seu caminho, cruzam figuras conhecidas do universo do Homem-Morcego, como a Mulher Gato, o Pinguim (em uma versão "humanizada" de Oswald Cobblepot) e o chefe da máfia Carmine Falcone. Nenhum deles, porém, oferece alguma coisa de graça ao jogador. Pelo contrário, todos estão contra a parede e mais confundem do que ajudam o protagonista. Não há personalidades e intenções definidas, tudo é cinza em Batman – The Telltale Series, cabendo a quem está segurando o joystick tornar as coisas um pouco mais claras – ou escurecê-las de vez.
Claro que cada decisão tomada terá consequências no futuro. E, ao final da partida, um ranking mostra que tipo de solução os jogadores ao redor do mundo estão tomando com maior ou menor frequência – e aí temos alguns levantamentos interessantes.
Por exemplo, a maioria dos jogadores está optando por quebrar o braço de um bandido indefeso ao invés de poupá-lo – o que causa a reprovação do Comissário Gordon. Claro, não parece ser algo que o Batman que conhecemos faria – mas é, ao que tudo indica, o que a maioria das pessoas gostaria de fazer se fosse o Batman. Ao mesmo tempo, mais gente têm poupado o grande vilão na sequência final do jogo. Sinal de que se arrependeram da violência gratuita cometida anteriormente? Talvez. Mas não deixa de ser sintomático.
* O jogo testado foi cedido pela Warner Games para PS4.