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The OA chegou à Netflix em dezembro sem alarde, com poucas informações divulgadas e envolta em uma aura de mistério. Ao fim da primeira temporada, o cenário não muda muito: há várias incógnitas, e a atmosfera misteriosa fica cada vez mais densa. A história criada por Zal Batmanglij e Brit Marling (mesma dupla de O sistema e A seita misteriosa) convida a pensar sobre a experiência de quase morte (EQM), então as questões sobrenaturais e místicas do seriado – uma espécie de mix entre Sense8 e Stranger things – são mais do que necessárias. Mas o problema está na inconsistência da narrativa.
A série começa despertando curiosidade nos dois ótimos primeiros episódios. Prairie Johnson (interpretada pela autora do seriado, Brit Marling) reaparece depois de sete anos desaparecida. A suspeita óbvia de um sequestro logo cai por terra, já que a jovem sumiu completamente cega e, agora, enxerga tudo. Com os pais Abel (Scott Wilson) e Nancy (Alice Krige), a relação está estremecida. Prairie faz questão de manter um distanciamento da família e se mostra desesperada para encontrar um tal Homer (Emory Cohen). Para achar seu amigo de cativeiro, ela posta um vídeo no YouTube pedindo ajuda de pessoas para cruzar uma fronteira.
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Surpreendentemente, aparecem cinco voluntários: a professora Elizabeth (Phyllis Smith) e os estudantes Alfonso (Brandon Perea), Buck (Ian Alexander), Jesse (Brendan Meyer) e Steve (Patrick Gibson). O grupo passa a se encontrar para ouvir Prairie contar sua história, que começa na Rússia, envolve premonições e um acidente de carro que leva a protagonista a uma EQM, resultando na perda de sua visão. A vinda da garota para os EUA, a adoção, os pesadelos frequentes e seu sequestro por um médico lunático chamado Hap (Jason Isaacs), que estuda sobreviventes da EQM, são fatos revelados pouco a pouco pela enigmática mulher.
Em uma casa afastada dos centros urbanos, o doutor faz as pessoas de cobaias: enjaulados, comendo ração e passando por testes, os prisioneiros não veem saída para a situação. A história se desenvolve mostrando o dia a dia da jovem cega no lugar. Aí está um dos pontos fracos: nesses cinco episódios intermediários, o ritmo se perde, e a curiosidade quase adormece enquanto a trama transcorre focada nos elementos místicos da protagonista. O incômodo não é o tom sobrenatural, mas as inconsistências do enredo. Afinal, quem iria se reunir durante a madrugada com uma jovem confusa que acabou de sair de um cativeiro de sete anos e postou um vídeo mais do que estranho na internet? E não há testemunhas ou câmeras que registraram os raptos das cinco jovens cobaias de Hap? Como o doutor financia toda aquela estrutura?
Quem chegou ao final de The OA só se manteve em frente à tela porque se agarrou à esperança de que o desfecho seria diferente. E, no fim, vale a pena. O episódio derradeiro faz o espectador esquecer o recheio sem graça e reaviva a paixão pela narrativa despertada lá no início. Sem dúvida, a cena mais interessante do seriado é a da dança em meio ao ataque a tiros na escola, confirmando que o elenco é um dos destaques da produção. O encerramento da primeira temporada passou longe do sobrenatural e reforçou a possibilidade de que, talvez, a versão de Prairie não seja totalmente verídica – o que, pelo menos, justificaria alguns furos da trama. Assim, para além da mística da EQM, a expectativa é que o prosseguimento da história – até agora, a Netflix não confirmou o segundo ano – fale mais sobre os cinco voluntários, aprofundando a história de cada um.