
O enterro será sábado, em Brasília, diante da seleção da Holanda. Um enterro caro, pelo R$ 1,5 bilhão que custou o Mané Garrincha, mais os salários das estrelas da Seleção. Mas o velório começou na terça-feira.
O técnico Luiz Felipe Scolari teve um gesto nobre. Deu a cara a tapa menos de 24 horas depois de assinar o maior fiasco em um século de história do futebol brasileiro: a derrota por 7 a 1 para a Alemanha na semifinal, que beirou o "vira em cinco, acaba em 10". Tentou, mas não conseguiu evitar o ambiente de féretro. Nem explicar o inexplicável.
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Como foi possível, em plena era moderna e profissional, perder por um placar que nem em várzea acontece mais? Com sinceridade ao mesmo tempo franciscana e constrangedora, disse que não faz a menor ideia. Durante exatos 49 minutos, ergueu folhas de papel com números e estatísticas de treinos, para se defender de críticas como a carga reduzida de trabalho com bola e as tentativas de enganar a imprensa nos treinos, cujo resultado se viu no 7 a 1.
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O objetivo da entrevista foi, claramente, vender a ideia de que o fiasco do Mineirão resultou de um episódio atípico. Catastrófico, desgraçado, trágico, um tsunami, mas não resultado de anos de desorganização da CBF. Nem mesmo do planejamento sempre emergencial, refeito a cada punhado de resultados ruins, na contramão da Espanha (última campeã) e da algoz Alemanha, que esperaram quase uma década para colher resultados após um processo de reformulação das categorias de base. Tudo não passou de uma tarde amaldiçoada.
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A vida segue, disseram Felipão e o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira. Só que nada na corajosa entrevista de última hora indicava vida. Rostos de musculatura tensa, cabeça baixa, braços cruzados, olhar vazio, desânimo no tom da voz, todos encolhidos na cadeira. Tanto a comissão técnica quanto o pessoal de apoio, estes acomodados ao lado do púlpito, permaneceram imóveis quase o tempo todo. Clima de velório total. Faltou só o corpo presente.
Uma emissora de TV colombiana entrou no ar ao vivo durante a entrevista e, falando baixinho, a repórter narrou o começo das explicações com ar de comiseração, quase piedade diante da cena.
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Felipão perdeu a linha algumas vezes com perguntas mais críticas, mas mesmo nestes momentos o semblante abatido não o abandonou. Em uma delas, disparou contra o presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfim de Pádua Peixoto, que deu a sua opinião em Florianópolis. Pare ele, o tempo de Felipão passou.
- Santa Catarina só ganhou alguma coisa comigo quando o Criciúma foi campeão da Copa do Brasil - desdenhou Felipão, acuado em frente ao microfone.
Ao lado de Felipão e Parreira estavam o chefe da delegação, Wilson Ribeiro, o preparador de goleiros, Carlos Pracidelli, o coordenador médico, José Luiz Runco, e, por fim, o preparador físico Paulo Paixão.
Ao contrário da rotina iniciada no dia 26 de maio, na largada da preparação, nem torcida havia nas barreiras policiais em volta da casa brasileira em Teresópolis. Nunca foi tão fácil circular no entorno da Granja Comary.
Não se ouviu um grito sequer chamando por David Luiz. Alguns táxis puderam chegar até a última cancela para deixar passageiros. Nenhum jogador apareceu. Um silêncio rascante, que serviu de trilha fúnebre para o dia seguinte da Seleção após sua jornada mais humilhante e trágica de todos os tempos, capaz de nos fazer repensar tudo o que dissemos e escrevemos acerca do Maracanazo de 1950.
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