Um carioca boa praça é o novo dono da lateral direita do Grêmio. Ao menos nos próximos 15 dias, enquanto Edílson estiver fora de combate, Léo Moura será titular da equipe de Renato, a começar pelo jogo deste domingo, contra o São José. Com 38 anos, ele conta nesta entrevista a ZH que veio buscar na Arena o título que ainda falta em sua carreira: a Libertadores da América.
Foi nesta competição que Moura viveu sua maior frustração no futebol. O ano era 2008, o quarto do lateral no Flamengo, clube no qual passou uma década. A vaga nas quartas de final, após a vitória por 4 a 2 sobre o América, no México, estava ao alcance da mão. Mas, na volta, com Maracanã lotado, uma atuação antológica do paraguaio Cabañas, marcando dois gols na vitória mexicana por 3 a 0, adiou o sonho.
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– Se nós passássemos pelo América, seríamos campeões. Foi muito duro sair do Maracanã naquele dia. Fiquei horas sentado no vestiário, duas noites sem dormir. Não conseguia acreditar – lamenta.
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Meia de origem, Moura jogou nos quatro grandes do Rio. No Botafogo, em 2001, foi deslocado para a lateral direita por Paulo Autuori. Amigo de Romário, a quem conheceu em uma pelada de final daquele ano, foi levado pelo baixinho a Vasco e Fluminense - onde também conheceu Maicon, seu cicerone no Grêmio.
Mas foi no Exterior que Léo viveu histórias curiosas. Com 17 anos, saiu de casa para uma aventura na Bélgica, sem saber do idioma, e, como a concentração do Beerschot estava em obras, foi acolhido pela família de um funcionário do clube, hoje extinto, que ficava na Antuérpia, a 41 quilômetros da capital Bruxelas.
– A mãe dele não queria deixar eu sair de casa quando a concentração ficou pronta – sorri.
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Depois do Flamengo, o lateral também se aventurou no Fort Lauderdale Strikers, nos Estados Unidos, por quatro meses em 2015. Mas foi na Índia, a convite de Zico, naquele mesmo ano, que Moura viveu uma experiência marcante com a camisa do F.C. Goa.
– O país vive pobreza extrema. Ali eu percebi que a vida é uma coisa simples, às vezes a gente briga por tão pouca coisa. Lá, eles estão na miséria, mas estão sempre sorrindo para você. Por isso, voltei de lá muito diferente.
O que trouxe você ao Grêmio?
Recebi o primeiro contato do Espinosa. Ele passou meu nome ao Renato, que gostou. Eu nunca tinha trabalhado com ele. Mas já conhecia ele dos jogos organizados pelo Zico. Jogar Libertadores de novo é um sonho. Já joguei pelo Flamengo, mas é o título que me falta. Tem que buscar, não é impossível.
Como se manter em alto nível com 38 anos?
Sempre me espelhei no Zé Roberto. É um cara que sempre se cuidou. Me cuido muito também. É claro que não tenho a mesma velocidade e força dos 20 anos. Mas, com a experiência, você consegue superar isso. E faço trabalho de prevenção, já que, para mim, o tempo de recuperação é um pouco maior.
Pretende jogar até os 42 anos, como o Zé?
Vamos ver, é possível. Quero jogar em alto nível. Enquanto ver que estou dando retorno, sigo jogando. De 38 rodadas do Brasileirão, joguei 33 em 2016.
O que você fazia aos 20 anos e não faz mais?
Tem que cuidar da noite de sono. Nunca experimentei bebida alcoólica. Gostava de sair, estar com amigos, ir em shows. Hoje não mais. Sou um cara família, fico em casa. Noite mal dormida e bebida é o que mais atrapalha. Não tem mais espaço para isso num esporte tão competitivo como o futebol.
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Você também pode ocupar a função do Douglas?
Já joguei assim na Índia, na Holanda. Não tem mistério. Para jogar no meio-campo, você precisa pensar antes do que os adversários. Tenho a capacidade e a inteligência para fazer isso. Como o Grêmio joga no toque de bola, fica mais fácil. Você precisa estar ligado para deixar o colega na cara do gol.
Em uma década de Flamengo, o que você aprendeu?
No Flamengo, as coisas nunca estão bem. Não tem momento sem cobrança. Mesmo que você seja campeão, a cobrança é rotina. Daqui a pouco tem que vencer novamente. Se tu joga lá, joga em qualquer lugar. É uma escola. Já vi grandes jogadores que eu achava que iam estourar não darem certo. E outros que tu menos espera que deslancham.
Sua relação com a torcida ficou estremecida?
Eles não entenderam o momento em que quis sair. Com o treinador da época, o Vanderlei Luxemburgo, eu não tinha prazer de trabalhar. Talvez por uma falta de diálogo, uma conversa. Hoje, consigo observar dessa forma. Mas naquele momento, achava que o melhor era sair para dar uma esfriada na cabeça. Veio oferta dos Estados Unidos. Mas acho que me precipitei um pouco.
O que leva você a pensar isso?
Eu poderia ter aguentado um pouco mais, passei tanta coisa. Mas eu não tinha mais alegria de trabalhar. Quando o Vanderlei teve problemas com o Ronaldinho, achou que fiquei do lado do Ronaldo. Te juro que não entendo. Da primeira vez, falei com a presidente (Patrícia Amorim) para trazer ele. Eu não tinha nada a ver com o problema. Talvez alguém falou algo para ele, ele acreditou. Não consegui sentar frente a frente com o Vanderlei para esclarecer as coisas. Talvez por falta de calma, acho que me precipitei em sair. Eu pensava que era o melhor para mim.
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Você sentiu desconfiança da torcida do Grêmio?
Isso é normal. Aconteceu no Santa Cruz. Será que um cara que jogou 10 anos no Flamengo vai dar certo? Eu venho com ânimo redobrado. Não gosto de falar nada antes. O que faço em campo é a resposta. No Grêmio, com 38 anos, a cobrança é grande. Jogo como se fosse a primeira partida da minha vida.
E a questão de sua irmã com Renato Augusto (acusação de furto e estelionato)?
Não tenho nada a ver com essa história. O problema é dela, que fez esta besteira com um cara que é meu amigo. Ela tem de ser reprimida por isso, e fui um dos que mais reprimiram. Não posso aceitar de maneira alguma. Ela está arrependida. Eu e o Renato seguimos amigos, ele soube separar. Quando ele subiu para o profissional no Flamengo, eu abracei ele. Sempre tivemos amizade. Errar, a gente erra na vida. Mas com ele, ela não podia ter errado.
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