
Em 14 de julho, já com o fiasco do Brasil consumado e a Alemanha coroada tetracampeã, a cúpula da CBF se reuniu para começar as mudanças na Seleção Brasileira. Pentacampeão mundial, o Brasil jamais havia levado 10 gols em 96 horas, como nas derrotas de 7 a 1 para os alemães e o 3 a 0 para a Holanda.
José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, presidente e vice da entidade, viram em Gilmar Rinaldi a esperança de reconstruir o futuro da Seleção. Goleiro de sucesso no São Paulo, agente Fifa e representante de jogadores durante 14 anos, Rinaldi é conhecido por ter uma longa amizade com a "Turma da Paulista": Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol desde 2003, e o seu vice Reinaldo Carneiro Bastos. Del Nero assumirá a presidência da CBF por quatro anos a partir de abril de 2015. A dupla convenceu Marin de que o nome de Gilmar era o mais adequado para comandar a reforma.
De Gilmar a Dunga, foram necessárias apenas duas reuniões. O goleiro e o volante se conhecem há 33 anos, quando Dunga começou a receber chances na equipe profissional do Inter, em 1981. Os dois foram promovidos ao time titular em 1983 - o goleiro era reserva de Benitez até o paraguaio se machucar gravemente, no final daquele ano.
Rede de perpetuação do poder torna improváveis mudanças no futebol
Jamais perderam contato. Em 1984, conquistaram o Gauchão e foram medalha de prata nos Jogos de Los Angeles, quando o Inter formou a base da seleção olímpica. E deixaram o Beira-Rio ao final daquele mesmo ano: o goleiro foi para o São Paulo, enquanto o volante saiu para o Corinthians. A amizade seguiu na capital paulista, se manteve com a equipe do Tetra, em 1994, com Dunga como capitão e Gilmar, o segundo goleiro reserva. Nunca perderam o contato e sempre trocaram informações sobre jogadores, táticas e as formas de trabalho do futebol europeu.
O agora coordenador técnico elogiou o trabalho de Dunga para Del Nero e lamentou a falta de continuidade do treinador após o Mundial da África do Sul. Ao deixar a Seleção, depois da Copa de 2010, Dunga encaminhou um relatório para o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, sugerindo uma imediata reformulação na equipe nacional e na maneira de a entidade conduzir o trabalho. As sugestões do ex-treinador jamais foram colocadas em prática. Mas, ao que tudo indica, parte deste relatório será colocado em execução agora.
Gilmar terá mais poderes do que antigos coordenadores, como Zico e Carlos Alberto Parreira. Já é tido como o primeiro-ministro, abaixo apenas de Marin e Del Nero. O projeto verde-amarelo de "germanizar" a Seleção está vivo. O desejo do novo comando é preparar desde já o time pré-olímpico, que poderá servir como base para a Copa de 2018, na Rússia. Sob o comando de Alexandre Gallo, a primeira formação já foi convocada _ sem grandes surpresas. Além disso, a ideia - que havia sido engavetada - de a CBF distribuir até 20% de sua arrecadação para categorias de base de 600 clubes pequenos Brasil afora, pode voltar a ganhar corpo. O projeto para melhorar a estrutura dos clubes e ampliar a formação de novos atletas prevê a distribuição de até R$ 100 milhões mensais a estes times.
A renovada Seleção Brasileira terá quatro duros testes ainda nesse ano: os amistosos com Colômbia, Equador, Argentina e Turquia.