O 11 de setembro é aquele dia do ano em que a parcela menos lunática do planeta renova seus votos contra o fundamentalismo. Não apenas contra o fundamentalismo islâmico, que resultou nos ataques a Nova York em 2001, mas contra todo tipo de crença política, religiosa ou de costumes, tão fechada em si mesma e intolerante com a diferença, que mesmo a violência parece um recurso legítimo para firmar posição.
Os atentados de 11 de Setembro foram apenas a manifestação mais grandiloquente daquele tipo de visão de mundo que, em diferentes momentos da História, mirou diferentes grupos de pessoas, raças, modos de vida ou culturas: se você não é igual a mim, não merece existir. E se, contra todos os meus esforços, você insistir em continuar existindo, tudo aquilo em que eu acredito está ameaçado.
Neste 11 de setembro de 2014, acordamos com a notícia de que um CTG que iria celebrar um casamento gay foi criminosamente incendiado durante a madrugada - e é impossível ignorar o simbolismo da data. Os tolos incendiários de Santana do Livramento, fundamentalistas a seu modo, talvez acreditassem que estavam defendendo alguma coisa - uma tradição histórica em boa parte inventada ou aquela vaga sensação de pertencimento que parece justificar uma existência vazia de outros significados -, mas estavam apenas manifestando o próprio desespero diante de um mundo complexo em que parecem não encontrar lugar ou sentido.
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Mesmo quem não tolera a violência e acredita que o casamento gay é legítimo, porém, pode estar se perguntando por que, afinal, alguém escolheria casar em um ambiente tão conservador quanto um CTG. E a resposta é tão simples quanto os acordes de uma milonga: porque o casamento é uma aspiração de todas as classes sociais, de todas as etnias, de todas as raças, de todas as religiões, de todas as orientações sexuais. Porque o casamento é associado com a busca da felicidade, com a realização pessoal, com o próprio direito de ser e existir - seja quando se realiza na cerimônia mais tradicional e abençoada, seja quando dois amantes juntam os trapinhos sem nenhuma solenidade.
Diferentes religiões, governos ou grupos sociais podem tentar definir quem pode e quem não pode casar segundo suas regras, mas isso não vai impedir que esses limites sejam forçados e, eventualmente, estendidos. Foi assim, no passado, com os casamentos entre classes sociais diferentes, entre etnias diferentes e está sendo assim agora com os casamentos de pessoas do mesmo sexo - já reconhecidos em muitos países e em algumas religiões. Por que casar em um CTG? Porque o desejo de casar não se presta a regras, nem mesmo as do tradicionalismo gaúcho.
Quem frequenta o CTG, porque gosta das músicas, das histórias fantasiosas sobre o passado ou simplesmente porque é o clube mais perto de casa, tem o direito de querer casar ali, se essa possibilidade é aberta. E é exatamente esse tipo de ousadia que produz as grandes mudanças de costumes. Não é um caminho fácil nem um processo sem atropelos, mas todo mundo sabe para que lado o mundo está caminhando. Menos aqueles que, como os fundamentalistas em geral, se acostumaram a olhar apenas para um lado da História: aquele que já passou.
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Solange Ramires, 24 anos, e Sabriny Benites, 26 anos, formam o primeiro par de lésbicas do país a se casar dentro de um centro de tradições gaúchas (CTG). As duas irão se somar a mais 28 casais heterossexuais que trocarão alianças na cerimônia marcada para sábado. O evento tem repercussão internacional, a se julgar pelo interesse demonstrado por jornalistas de outros países. Estão convidadas autoridades do governo do Estado, do Poder Judiciário e do Ministério Público.
Para Solange e Sabriny, é a oportunidade de formalizar uma paixão iniciada há cinco anos. Com o documento de casadas, pretendem contrair um empréstimo para comprar a casa própria.
