
Amiga de Bernardo Uglione Boldrini desde que o menino tinha dois anos de idade, a empresária Juçara Petry, dona de uma confecção de moda íntima em Três Passos, relatou à Justiça na manhã desta segunda-feira que o garoto "falou tudo" que estava ocorrendo na casa dele à Justiça e ao Ministério Público de Três Passos antes de morrer. Bernardo, porém, não detalhou a Juçara o teor do depoimento.
- Ele disse que a promotora (Dinamárcia Maciel de Oliveira) ia mudar a vida dele. Que ele teria a chave para entrar em casa, lanche, roupas como os demais coleguinhas - disse Juçara à promotora Silvia Jappe na segunda audiência do caso, realizada no Foro da cidade. Ela é a terceira testemunha das sete de acusação arroladas para falar.
Bernardo procurou ajuda da Justiça em janeiro de 2014. Na ocasião, apontou duas famílias com as quais gostaria de morar, sendo a de Petry uma delas. Consultada sobre a possibilidade de ter a guarda dele, Juçara afirmou que aceitaria, desde que os outros familiares não fizessem oposição. Ela foi procurada pelo Conselho Tutelar.
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A empresária acolhia o garoto por vários dias - até 15 corridos - e tinha de emprestar o próprio pijama para ele dormir, já que Bernardo era mandado à casa dela por Leandro Boldrini e Graciele Ugulini sem roupas adequadas. Quando cobrava da madrasta mais cuidado com Bernardo, ela ouvia "que se exploda".
- Eu lavava a roupa dele para ele poder usar pela manhã. As roupas que ele tinha não davam para vestir, ele não tinha nem chinelo. O Bernardo estava sempre de uniforme porque eu tinha na minha loja e dava para ele - contou Juçara.
Ela relatou ainda detalhes das condições em que vivia o menino e ressaltou que ele não possuía coisas básicas, como roupas novas, a chave de casa e um tratamento odontológico frequente. O marido de Juçara, Carlos Petry, chegou a levar Bernardo para consultar um dentista porque ele reclamava muito de dores. O casal procurou a madrasta Graciele Ugulini para explicar a situação e ela falou "que se vire, esse guri só me incomoda".
Semanas antes do assassinato, Boldrini falou a Bernardo que estava brabo com Juçara porque ela "sabia tudo" - ou seja, os problemas familiares. O garoto comentou isso com a empresária, que notou visitas menos frequentes desde então.
A segunda audiência do Caso Bernardo começou com o depoimento de Simone Müller, coordenadora do Colégio Ipiranga e professora do menino, e Rosane Terezinha, secretária da escola. Mais quatro testemunhas devem falar ainda nesta terça-feira. Ao todo, 77 pessoas foram arroladas para prestar esclarecimentos.
Apenas a ré Edelvânia Wirganovicz está presente, mas as três primeiras testemunhas pediram para depor sem a presença dela na sala da audiência. Leandro Boldrini, Graciele Ugulini e Evandro Wirganovicz devem participar apenas da audiência em que serão inquiridos. Ainda não há data prevista para isso ocorrer.
Imagens revelam ameaças sofridas por Bernardo
A delegada Caroline Bamberg Machado afirmou, no mês passado, que a Justiça recebeu um vídeo periciado no telefone de Boldrini que revelaria que o médico e a madrasta do menino, Graciele Ugulini, ridicularizavam as reclamações de Bernardo sobre as agressões sofridas em casa. Zero Hora teve acesso à íntegra da gravação de 28 minutos em que Bernardo recebe veladas ameaças da madrasta em casa. ZH publicou outras imagens feitas em um celular pelo médico, que mostram o que parecia ser uma prática de Boldrini e de Graciele: gravar as brigas e reações do garoto.
*Zero Hora