
O Palácio Piratini deu a largada, na tarde desta quinta-feira, à operação para costurar apoio político à proposta de aumento de tributos no Estado. Ao final de duas horas de reunião a portas fechadas com os deputados de seu partido, o governador José Ivo Sartori conseguiu garantir o aval do PMDB ao projeto, considerado fundamental para amenizar a crise nas finanças estaduais.
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Até então dividida, a bancada foi a primeira a admitir publicamente que votará a favor do tarifaço, caso Sartori decida mesmo levar a polêmica adiante. A medida pode gerar R$ 2 bilhões a partir de 2016.
Acompanhado de assessores, Sartori chegou ao Piratini às 12h59min, sem falar com a imprensa. Veio de Brasília, onde tentou - sem êxito - sensibilizar o governo federal para as dificuldades do Estado. No salão de banquetes, era esperado pelos oito deputados do PMDB. O encontro também teve as presenças do vice-governador, José Paulo Cairoli (PSD), do secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Fábio Branco, e do chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi.
No cardápio, consumê de ervilha, lombo de porco com aipim, salada verde, suco de uva e pelo menos duas pautas indigestas: a inflexibilidade da União diante do pedido de ajuda de Sartori e o aumento de impostos.
No caso da primeira, sobraram críticas ao Ministério da Fazenda. Na última terça-feira, o Estado teve as contas bloqueadas devido ao atraso no pagamento da dívida pública. Até a próxima terça, nenhum débito pendente poderá ser paga pelo governo.
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Em relação à elevação do ICMS, a bancada disse ser contrária e alertou para a repercussão negativa da proposta, rechaçada pelo empresariado e mal vista pela população. Alguns, como o líder do governo na Assembleia, Alexandre Postal, já haviam rejeitado iniciativa semelhante sugerida pela ex-governadora Yeda Crusius (PSDB).
Apesar disso, foram convencidos por Sartori e por Biolchi de que, sem o aumento, a penúria será ainda maior em 2016.
- Metade da bancada não quer votar aumento de impostos, só que não tem mais o que fazer. O governo federal virou as costas para o Estado, e o governador pediu a nossa ajuda. Não teve bate-boca nem nada do tipo. Foi uma conversa franca - relatou um dos deputados.
Aos poucos, separadamente, os participantes deixaram o local. Presidente da Assembleia, Edson Brum (PMDB) evitou os jornalistas. Postal e os demais confirmaram a decisão.
- A bancada do PMDB vai estar ao lado do governador. É uma posição fechada. Votei contra o aumento no passado, mas, diante da situação atual, vou apoiar o governo. A decisão está na mão de Sartori - afirmou Postal.
Apesar de importante para o Piratini, a chancela do PMDB não é suficiente para a aprovação. A cúpula teme o fracasso e o desgaste político. Por isso, a proposta não foi encaminhada nesta quinta, como chegou a ser cogitado nos bastidores.
Integrantes do primeiro escalão ainda sondam partidos da base. Embora os apoiadores sejam maioria, não há consenso. Ao mesmo tempo, há o entendimento de que o melhor momento para enviar o projeto é agora: no ápice da crise.
Colaboraram Cadu Caldas e Carlos Rollsing