
Doze vetos da prefeitura de Porto Alegre a projetos aprovados pela Câmara de Vereadores fizeram parlamentares do partido de José Fortunati (PDT) contrariarem a orientação de votação da base aliada e se tornaram o estopim de uma crise entre o Executivo e o Legislativo municipal. Nesta terça-feira, o impasse culminou com o anúncio do prefeito de licenciamento do partido e incertezas quanto à governabilidade sem o apoio dos próprios colegas de sigla.
Seis dos 12 vetos foram apreciados na segunda-feira, e a votação de dois deles representou a gota d'água para Fortunati de uma agrura que, segundo o prefeito, se estende desde o período em que foi vice, na gestão de José Fogaça (PMDB). Ele queixou-se da derrubada de veto à proposta de criação de 14 Áreas Especiais de Interesse Social (Aeis) na Capital e ao projeto que torna obrigatória a instalação de ar-condicionado em toda a frota de ônibus municipal.
Dois dos cinco vereadores da bancada do PDT na Câmara votaram em oposição ao prefeito: Delegado Cleiton e Doutor Thiago Duarte. João Bosco Vaz votou favoravelmente à posição de Fortunati. Márcio Bins Ely e Nereu D'Ávila se ausentaram.
"Já recebi vários convites, mas, a todos eles, agradeci", diz Fortunati
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- É inadmissível a postura de parlamentares, de vereadores que compõem o governo, e que, de forma sistemática, fazem oposição. Obviamente, respeito a oposição. Mas, ou se é oposição, ou se é situação. Não existe meio-termo - justificou Fortunati.
O prefeito afirmou que a licença do PDT é irrevogável e que pretende encerrar o mandato na Capital, em dezembro de 2016, sem filiação partidária. O anúncio que expôs o racha da sigla com o afastamento do principal nome da legenda em Porto Alegre - ventilado, inclusive, para disputar o governo do Estado em 2018 - surpreendeu pedetistas.
Doutor Thiago Duarte, figura dissonante no PDT porto-alegrense, cuja postura já ficou exemplificada nas críticas ao ex-secretário municipal da Saúde Carlos Henrique Casartelli, pregou a independência do Legislativo frente ao Executivo. De sua autoria, Fortunati vetou a proposta que obriga restaurantes a informar a presença de glúten nos alimentos.
- Esses projetos não foram sequer discutidos pelo prefeito. Eu, por exemplo, estou na Câmara há seis anos e nunca fui escutado pelo prefeito sobre minhas proposições e sugestões na saúde - disse. - Votei assim por coerência e convicção.
Líder da bancada do PDT na Câmara, Márcio Bins Ely alegou que ainda não havia se posicionado sobre os vetos, mas que tende a votar conforme o partido - apesar de admitir o "momento bem complicado" da política municipal.
- Há uma série de projetos de vereadores que foram vetados. Houve um acúmulo que pode ter ajudado a refletir na derrubada de alguns vetos - analisou o vereador, que trabalha para conseguir aprovar a iniciativa do Banco do Livro, vetada pela prefeitura.
Na quarta-feira, os demais seis vetos encaminhados pelo Executivo entrarão na pauta de votação da Câmara. Entre eles, está a suspensão do projeto do também pedetista Delegado Cleiton que declara feriado municipal o Dia da Consciência Negra e da Difusão da Religiosidade, em 20 de novembro. Na sexta-feira, o presidente estadual do PDT, Pompeo de Mattos, convocou uma reunião na tentativa de dissuadir Fortunati do afastamento da sigla. No encontro, a ordem do dia será o diálogo.
- Ele (Fortunati) tem razão que a relação com a bancada não está boa, mas a relação dele com o partido é muito boa. Precisamos dialogar essa questão específica da bancada. Justifica a reclamação e uma tomada de atitude, mas não justifica a saída do partido - avalia Pompeo.
* Zero Hora