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Códigos e linguagens a decifrar

Engana-se quem pensa que o conteúdo de Linguagens e Códigos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorre nos dias 8 e 9 de novembro, se resume a português, literatura e língua estrangeira. Na prova - que é aplicada no segundo dia, junto a questões de matemática e à redação -, são também cobrados conteúdos de artes, educação física, tecnologias da informação e comunicação.
- O aluno deve reconhecer que existem diversas possibilidades de expressar uma mensagem, e não só por meio de texto. Imagem, retrato e dança deixam claro que a linguagem não é só aquela que escrevemos, mas também o que gesticulamos, desenhamos etc. - explica Ávila Oliveira, professor de português no Unificado.
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Em meio a questões gramaticais e (muita) análise de textos, o aluno pode deparar com um quadro impressionista ou uma representação do corpo humano. Compreender as novas formas de comunicação também é importante: uma análise crítica sobre o papel das redes sociais pode muito bem acompanhar aquele denso texto de apoio, tão comum no exame.
Essas outras linguagens, no entanto, não demandam muito conhecimento específico do aluno. Para acertar as questões, é fundamental entender a proposta de uma obra, por exemplo, e os métodos utilizados pelo autor para desenvolvê-la. Não raro, isso pode ser deduzido da análise da própria imagem apresentada no teste.
- As perguntas de artes não requerem conhecimento de artes plásticas, assim como não é preciso entender a teoria da educação física, e tecnologia não é cobrada especificamente. Recomendo analisar o enunciado e ir eliminando as alternativas que não se aplicam, porque o que se exige é a compreensão - destaca Flávio Azevedo, professor de literatura do pré-vestibular Mottola.
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Língua estrangeira
Nenhuma outra prova do Enem é tão baseada em interpretação quanto as de inglês e espanhol. E nelas fica evidenciada a mesma variedade de gêneros que marca as demais disciplinas de Linguagens: tirinhas, letras de música, poesias e até peças publicitárias podem ser usadas para cobrar a compreensão de língua estrangeira. Assim, o conteúdo gramatical perde espaço.
- O mais importante é identificar a ideia central do texto. A prova geralmente não cobra minúcias - afirma Eduardo Folks, professor de inglês no Anglo.
Para tanto, o Enem tenta trazer as questões para o cotidiano do aluno, não raro recorrendo à cultura pop: há sempre alguma referência a artistas ou acontecimentos recentes. Na edição passada, foi mencionado Steve Jobs. Na anterior, Jimi Hendrix e J.K. Rowling motivaram um par de questões.
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Em espanhol, o destaque vai para os aspectos culturais: por vezes, mesmo sem ler o texto do enunciado, é possível chegar à resposta certa apenas por conhecer as características principais de um país. Entender o que leva ao turismo em Machu Picchu e o que significa o Dia dos Mortos no México ajudou candidatos a responder questões nos últimos anos, conforme Gabrielle Lafin, professora de espanhol no Anglo.
- Conhecer a cultura dos países hispânicos é importante: já caíram, por exemplo, questões sobre bilinguismo no Paraguai e uma cantiga popular em espanhol - diz ela.
O professor do Unificado Carlos Castillo reforça que compreender a mensagem principal é fundamental, mas ter domínio de verbos, conjunções e vocabulário em geral - ainda que não haja uma questão específica sobre gramática - costuma ajudar.
Litearatura
Sem leituras obrigatórias, as questões de literatura são basicamente focadas na análise textual - não só de livros. Nelas é preciso, além de entender o que o autor descreve, conseguir relacionar a produção com o contexto histórico em que foi concebida. Aspectos sociais e políticos de relevância para as obras abordadas também são uma constante na prova. Como resume o professor Flávio Azevedo, do Mottola, é preciso compreender o texto dentro de um contexto.
A divisão de obras em escolas literárias raramente é cobrada na prova. Maria Tereza Faria, professora do Universitário, explica que o importante é identificar o período em que o livro foi escrito e a influência, no texto, da época em que o autor vivia. Ter de relacionar Gregório de Matos ao barroco, por exemplo, não é comum.
Indo ao encontro do que é cobrado na parte da prova dedicada à língua portuguesa, algumas perguntas apresentam poemas que flexibilizam a gramática. Exemplos frequentes estão em textos de Oswald de Andrade, um dos autores "preferidos" do Enem. A era modernista em que o paulistano viveu também é bastante cobrada, e linguagem coloquial e predomínio de versos livres - traços característicos do período moderno - caem com frequência.
Ainda que Linguagens não costume ter uma grande carga de atualidades, neste ano é bom ficar atento a alguns marcos literários. O professor William Boenavides, do Anglo, sublinha as recentes mortes de três grandes nomes da literatura brasileira: João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna e Rubem Alves. As crônicas de um, peças de teatro do outro e a diversidade de obras do último podem influenciar algumas perguntas.
William destaca a opção do Enem por mostrar gêneros diferentes daqueles pelos quais os autores são mais conhecidos.
- Além da forte presença de textos não verbais, é constante a referência a textos em prosa de autores mais conhecidos por sua produção poética e de trechos de romances de autores mais conhecidos por seus contos - diz o professor.
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Português
Gêneros textuais, literários, musicais, teatrais: pode ser cobrado de tudo nas questões de Linguagens. É preciso concentração. Em uma prova com 90 questões de múltipla escolha (incluindo as de Matemática e suas Tecnologias) e uma redação, as 5h30min disponíveis acabam parecendo pouco.
- O grande custo que a prova cobra é paciência e fôlego para ler muitos textos, observar gravuras, compreender tiras de história em quadrinhos ou fotografias, entre outros - analisa Edson Otero Silveira, professor do Anglo.
Edson avalia que, historicamente, o Enem cobra pouco conhecimento gramatical puro. No entanto, ele defende que a correta interpretação de textos passa por um bom raciocínio sintático e gramatical, além da compreensão de gêneros textuais, níveis e figuras de linguagem. Nos últimos anos, segundo Edson, as questões que exigiam conhecimento dos mecanismos gramaticais cobraram basicamente conteúdos ligados a pronomes e nexos/orações.
Outro aspecto valorizado é a diferença entre norma culta e linguagem coloquial. O exame não faz juízo de valor e cobra do aluno que entenda mesmo palavras grafadas incorretamente como representativas da diversidade cultural.
- No Enem não existe certo e errado na linguagem, mas adequado e inadequado - avalia o professor do Unificado Ávila Oliveira. - O candidato pode estudar variações linguísticas dentro do país.
Ávila explica que qualquer alternativa julgando errada a maneira como se fala em determinada região deve ser vista com cautela: afinal, a prova valoriza as diferentes formas como se fala no país - sem nunca deixar de lado a cobrança dos conteúdos necessários para que um texto funcione.
* Zero Hora