
Com um índice de cesáreas no Brasil em 55,6% - o que supera a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de taxas ideais entre 10% a 15% dos nascimentos -, o Ministério da Saúde anunciou nesta terça-feira propostas para tentar reduzir o número de partos cirúrgicos. Entidades médicas gaúchas acham que a mudança não é significativa para a lógica do sistema.
Médico da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Sul (Sogirs), Sérgio Martins Costa classifica a ação como "pirotecnia" do governo. Para ele, a ação não trará nenhum efeito prático na relação de "conveniência que existe hoje". A mudança estaria em a mãe fazer o pré-natal com um médico e, na hora do parto, procurar o hospital, como ocorre em países como Canadá, Inglaterra e Estados Unidos:
- Ter o médico escolhido, a sua disposição ou com hora marcada, é aparentemente a melhor medida, mas não é de fato. Isso facilita uma lógica perversa. A solução seria um movimento dos convênios para fazer com que o atendimento dos hospitais seja parecido com o do SUS. O modelo deve ser com plantão 24 horas.
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Vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Maria Rita Assis Brasil lembra que as estatísticas mostram que as mulheres atendidas nos convênios demostram preferência pela cesárea por uma questão de praticidade:
- O avanço da tecnologia faz com que a tendência seja cesárea, é menos doloroso para a paciente e mais fácil para o médico, por isso sou cética sobre o funcionamento da medida do governo - afirma.
Presidente do Cremers, Fernando Weber Matos considera "um retrocesso" a proposta. Para ele, o investimento em parto normal é uma "confissão de que o governo quer continuar investindo pouco na saúde e em tecnologia":
- É um desfavor contra o progresso da boa medicina praticada pelo médicos brasileiros.
Ele defende, no entanto, o esclarecimento dos benefícios de ambos os tipos de partos e das situações em que o parto normal não pode ocorrer.