
O Secretário de Cultura de Porto Alegre, Luciano Alabarse, foi um dos entrevistados do programa Gaúcha + desta segunda-feira (11). Alabarse falou sobre a polêmica acerca do encerramento da exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, cancelada no último domingo pelo Santander Cultural após receber acusações de promover blasfêmia contra símbolos católicos e conter obras que faziam referência à pedofilia e à zoofilia.
Alabarse se posicionou contra a decisão do Santander de antecipar o final da mostra, prevista para durar até o próximo dia 8, e definiu-se como uma pessoa que lutou a vida inteira contra a censura, especialmente na área artística, além de ser radicalmente a favor da liberdade de expressão.
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– Qualquer obra de arte, qualquer uma, pode ser questionada, pode ser criticada, pode ser rejeitada, pode ter o olhar que tiver, menos um. Ela não pode ser censurada. Ela não pode ser objeto que digam que ela não tem espaço e direito de existir – disse o secretário, que ainda afirmou que a arte não está acima de nenhum juízo de valor – A gente só está dizendo que é preciso, sim, discutir sobre elas, a partir da sua existência e da sua legitimação.
Um dos questionamentos levantandos pelo secretário foi o conhecimento do público com relação aos trabalhos que estavam sendo criticados.
– Um dos argumentos que eu ouvi é que não era uma exposição para crianças. Certamente há obras de arte que não são destinadas ao público infantil, mas não é o caso de proibir uma exposição dessa monta, porque eu vi a exposição. Eu queria saber se as pessoas que estão tão veementemente inflamadas contra ela foram lá. É uma exposição que tem nomes como Portinari, como Leonilson, como Adriana Varejão. São artistas extraordinários, com fama mundial. Que bom que Porto Alegre está tendo contato com a obra desses artistas – defendeu.
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Luciano Alabarse afirmou que, mais do que uma exposição, o que está em jogo é a liberdade de expressão. Segundo ele, as pessoas não querem mais dialogar.
– As pessoas querem ganhar seus pontos de vista no grito. Eu acho que falta um pouco de silêncio no mundo, um pouco de bom senso, um pouco, principalmente de entender o papel da arte.
Sobre a representação das obras expostas, Alarse afirmou que é preciso compreender o papel artístico no mundo contemporâneo.
– A arte, às vezes, não aponta soluções, aponta problemas, apontas questões. E ela existe para questionar, para provocar o senso estético. A arte aponta para realidades sociais. E eu acho que, principalmente esta exposição que estamos falando, aponta para uma questão de gênero, que hoje é uma das principais inquietações no mundo. A sexualidade, o direito, os avanços, e é disso que eu acho que uma exposição dessas adquire valor.