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Carlos Vergara está de volta - mas só de passagem, como todo viajante.
Em 2003, quando ganhou uma grande retrospectiva no Santander Cultural, o artista foi aos Sete Povos das Missões para começar um novo trabalho. Em São Miguel, usou tecidos para gravar, como se fizesse uma impressão, as marcas das ruínas da antiga redução jesuítica.
Passou os anos seguintes repetindo esse processo, chamado monotipia, em destinos como Capadócia, Pompeia, Cazaquistão, Índia e Turquistão. Em cada viagem, escolhia um determinado lugar e estendia seus lenços e panos para registrar os vestígios do chão e do que mais lhe atraísse o olhar. Os trabalhos dessa jornada deram origem à série "Sudário", que agora são apresentados no retorno desse artista viajante.
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Na exposição que inaugura nesta terça-feira (30/6) no Instituto Ling, com visitação a partir de quarta-feira, Vergara reúne pela primeira vez todos os sudários realizados ao longo de 12 anos de percursos pelo mundo. Cerca de 250 obras compõem a instalação que é o destaque da nova individual do artista em Porto Alegre, com entrada franca.
Vergara montou um ambiente em que os sudários estão suspensos e enfileirados, indicando um percurso ao visitante. Alguns trazem anotados no verso onde foram realizados. Além das monotipias, que resultam em imagens ancestrais e abstratas, há lenços autocolantes com os quais o artista recolhe fragmentos do solo - da natureza a objetos industrializados -, em um gesto de capturar fisicamente um pouco de cada lugar que vivencia
- É uma caminhada longa, são muitos lugares visitados - diz Vergara, 74 anos, observando os sudários. - Existem várias formas de viajar, de ver o que tem para ser visto, de sentir o que tem para ser sentido. Viajar também é um esforço intelectual.
Acompanham os sudários quatro pinturas em monotipia de grandes dimensões e dezenas de fotografias de viagem, algumas mostrando Vergara realizando seus trabalhos. Não há legendas nas imagens, o que faz delas um tipo de ensaio visual sobre os itinerários do artista.
Para a curadora da mostra, a carioca Luisa Duarte, a série "Sudário" traz um contraponto à velocidade cotidiana:
- Essa captura das coisas do mundo de uma maneira tão delicada e única pelo Vergara oferece uma alternativa ao excesso de imagens e informações que perturba e polui o nosso olhar.
Vergara conta que os sudários, ainda que remetam ao pano que teria envolvido o corpo de Jesus, não têm motivação cristã. Surgiram como forma de "buscar sinais e vestígios que pudessem conter a aura dos lugares". Contudo, no modo como passou a fazer os trabalhos, há um ritual quase religioso.
- Porque, em cada viagem, eu me ajoelho para fazer o trabalho, como uma reverência ao lugar que visito. E digo: "Deus, permita-me que eu não tenha nenhum preconceito e veja tudo o que há para ser visto". O olhar é o menos poético dos nossos predicados. Desde pequenos, somos criados para usar o olho pragmaticamente, para não tropeçar, reconhecer as pessoas, perceber o perigo... A capacidade poética do olhar vem de um esforço intelectual. A arte, creio eu, ajuda a treinar o olhar a ser poético - afirma.
Depois daquela primeira ida a São Miguel das Missões, que desde então o tem levado a outros lugares do mundo, Vergara retornou algumas vezes às ruínas da experiência jesuítica. Conta ele que o peso da história o marcou profundamente, pois o levou a entender que a utopia daqueles homens é a mesma perseguida pelos de hoje.
- A experiência das Missões, com uma comunidade cristão-comunista e horizontal, foi uma tentativa de mudança de paradigma na existência. Nos séculos 17 e 18, a pergunta deles era: como faremos para viver juntos? Essa questão é fundamental, é a pergunta mais pertinente que temos ainda hoje. E eles tentaram responder de um jeito.
Quem é
- Carlos Vergara nasceu em 1941, em Santa Maria (RS). Filho de reverendo anglicano, mudou-se com a família para São Paulo aos dois anos. Desde 1954, vive e trabalha no Rio de Janeiro.
- É um dos mais importantes artistas brasileiros da geração que despontou nos anos 1960, tendo sido aluno de Iberê Camargo (1914 - 1994) e amigo de Hélio Oiticica (1937 - 1980).
- Depois de um período de pinturas expressionistas, absorveu elementos gráficos e da cultura de massa, integrando, ao lado de nomes como Rubens Gerchman e Antonio Dias, a chamada Nova Objetividade, uma manifestação politizada da pop art no Brasil em tempos de ditadura.
- Nos anos 1970, dedicou-se à fotografia, com destaque para os trabalhos que realizou documentando festejos populares como o Carnaval.
- Na década seguinte, retomou a pintura, pesquisando técnicas e processos experimentais e inovadores.
- Nos anos 1990, passou a pintar usando elementos da natureza e minérios. Também começou a fazer viagens para realizar seus trabalhos.
- Em 2011, apresentou o projeto Liberdade, impactante trabalho sobre a implosão do Complexo Penitenciário Frei Caneca, no Rio. Fez pinturas e filmes, além de uma instalação em que usou as portas das celas do presídio.
- Com mais de 200 exposições, já participou da Bienal de São Paulo (1963, 1967, 1985, 1989 e 2010), Bienal de Veneza (1980) e Bienal do Mercosul (1997 e 2011), entre outras.
CARLOS VERGARA - SUDÁRIOS
- Exposição no Instituto Ling (João Caetano, 440), em Porto Alegre, fone (51) 3533-5700.
- Inauguração nesta terça-feira (30/6), às 19h, para convidados.
- Visitação a partir de quarta-feira (1/7), de segunda a sexta, das 10h30min às 22h; sábado, das 10h30min às 21h; e domingo, das 10h30min às 20h. Até 23/8.
- Entrada franca.
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