Nico López espera transformar frustração em gols. Contratação mais badalada do Inter em 2016, o atacante uruguaio havia se destacado na Libertadores, pelo Nacional, e foi comprado pelos colorados. Chegou em meio a um time caótico e se surpreendeu com tantos treinadores. Nunca havia trabalhado com tanta gente diferente em tão pouco tempo. Entende que o fato de chegar em meio de temporada, sem a preparação física adequada, queimou um pouco sua imagem no Beira-Rio. Quer dar a volta por cima, projeta marcar pelo menos 25 gols na temporada. Para isso, recusou ofertas de México e Europa, em dezembro.
Com os braços cheios de tatuagens e de aparelhos nos dentes – que agora impedem que ele tenha dores de cabeça, que refletiam até o pescoço –, Nico conversou com Zero Hora. Sente saudades do filho Elias Benjamin, que entrou no campo com ele na vitória sobre o São Paulo-RG (quando Nico marcou o único gol do jogo, homenageou o guri de quatro anos e meio). Comparou a dificuldade do Campeonato Uruguaio à do Gauchão, afirmou que deseja ver o Inter de volta à Série A e seguir no clube, recordou o seu passado na Roma, ainda jovem, aos 18 anos, onde trabalhou com Antônio Carlos Zago, disse sonhar com a Celeste e ter certeza de que o Inter não cairia em 2016 se D'Alessandro estivesse no clube. Até contou ter sido vítima de bullying no Beira-Rio, por causa de Uruguai e Brasil.
– Quando Cavani fez o gol, mandei uma comemoração para o grupo Whatsapp do Inter. Até agora estão me falando "4 a 1, 4 a 1". Por que que falei aquilo?
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Confira os principais trechos da entrevista:
Você já está no Inter há quase um ano. Quais as tuas impressões, olhando para trás?
Muito legal, passa rápido o tempo, não? Estou muito bem. Porto Alegre é muito parecida com Montevidéu. Estou me sentindo bem. Fiz uma preparação completa. No ano passado, não consegui fazer. Estou me sentindo contente aqui.
Em relação às lesões que te tiraram de diversos jogos. Foi devido à falta de uma pré-temporada?
Sim. Fiz a pré-temporada pela metade. O Inter estava jogando uma partida a cada três dias. E eu estava fazendo a preparação. Isso dificultou um pouco. Depois, fiquei lesionado quase por um mês e meio. Agora, fiz a preparação completa, estou me sentindo bem fisicamente e contente por estar no Inter.
Já se sente 100% adaptado?
Sei que posso dar mais. A confiança que estão me dando o treinador e os meus companheiros é o que o jogador necessita.
Em 2016, você fez uma boa Libertadores, destacou-se com o Nacional e acabou contratado pelo Inter, que já estava em uma situação delicada. Não ter voltado para a Europa te frustrou?
Eu queria ficar na América do Sul. O Inter é uma equipe grande. Estava um pouco em dúvida, se ficava um mais tempo no Uruguai, porque eu tenho um filho lá e sou separado. Eu passava muito tempo com ele e, ir embora assim, ficou... Mas eu fiquei contente. É uma equipe grande, que ganhou muita coisa. E venho para cá para fazer história, ter o meu nome no clube. Nos primeiros seis meses, fui mal e, agora, que estou bem. Quero tratar de fazer um ano bom e colocar o Inter na Série A, e recomeçar a ganhar títulos.
O Inter já conseguiu absorver o rebaixamento? Você nota um ambiente melhor no clube?
Sim. Isso é passado. Agora temos que pensar neste ano, tratar de primeiro ganhar a Copa do Brasil e Gauchão, para estarmos na Libertadores no ano que vem, e subir na Série A. Tenho certeza que vamos subir. Somos uma equipe grande e não merecíamos ter caído, assim como o torcedor. Estamos bem, temos o D'Ale. Para mim, se ele estivesse no ano passado, não cairíamos. Ele está jogando muito.

O Campeonato Gaúcho é parecido com o Uruguaio? Você vê semelhanças?
Sim. Tem equipe de Série C também. Correm muito, marcam muito. E, neste tipo de jogo, é parecido.
O Gauchão parece estar mais difícil para o Inter...
O campeonato gaúcho, como eu falei, tem equipes da Série C. No outro campeonato, também. Mas agora o importante é tentar classificarmos entre os quatro. Mas temos de tratar de ganhar todos os jogos, nos classificar entre os quatro melhores e, depois, no mata-mata vai ser outra coisa.
O que te faltava era uma boa sequência de jogos?
Sim. Faltava a confiança de jogar bem uma partida e de jogar bem a próxima. A confiança que o treinador pode ter em mim. Isso é importante para um jogador, para pegar ritmo, focar. Se você joga a cada 15 dias, acaba não sendo o mesmo.
A constante troca de treinadores no ano passado também prejudicou essa confiança recíproca?
Não é fácil. Nunca havia acontecido comigo de ter quatro treinadores em seis meses (Argel, Falcão, Roth e Lisca).
Antônio Carlos Zago te conhece desde a Roma (Zago foi auxiliar do técnico tcheco Zdenek Zeman, na Roma, quando Nico foi contratado ao Nacional, na temporada 2012). Ele tem sido importante para você?
Muito importante. Ele me conhece desde a Roma. E sabe que posso fazer muito mais. Falei com ele assim que o Brasileirão do ano passado acabou. Fui no dia seguinte para o Uruguai e encontrei ele no Blue Tree (próximo ao Beira-Rio), o hotel em que eu estava hospedado. Conversamos e fiquei muito feliz em tê-lo de volta. Faz pouco tempo que começou aqui no Inter e já melhoramos muito. Ele sabe que a preparação que fiz na Roma foi a melhor possível. Joguei pouco, era jovem, mas joguei com nomes importantes. E Antônio Carlos sabe do que sou capaz.
O seu filho esteve recentemente em Porto Alegre, entrou em campo contigo, em um de teus melhores jogos nessa temporada (a vitória por 1 a 0 sobre o Brasil-Pel, passe de Nico para o gol de Roberson). A presença dele a teu lado ajuda?
Um filho é muito importante. Amo ele e queria estar sempre ao lado dele. Mas não dá. Ele mora com a mãe, em Montevidéu. As pessoas me dizem que, com ele próximo, eu sou outro Nico. Espero que ele volte rápido. Quero que retorne a Porto Alegre na metade do ano, que fique pelo menos mais 15 dias aqui.
No ano passado se disse que o seu desempenho físico era prejudicado até por problemas dentários. Você está usando aparelho nos dentes. Esse tratamento fez efeito?
Fiz um tratamento anos atrás na Europa. Coloquei um aparelho móvel, que me ajudou muito. mas quando voltei ao Uruguai, não encontrei mais o mesmo tipo de aparelho. Seis meses depois, os dentes começaram a abrir de novo, ficaram feios, voltei a ter dores de cabeça, dores no pescoço, até que, aqui, um dentista disse que eu precisaria colocar um aparelho de novo, sob pena de ficar mais exposto a lesões. Dez dias depois, acabei tento uma lesão de Grau 2 e fiquei 45 dias parado. Aí, coloquei um novo aparelho. Agora estou bem melhor. Até para respirar. E para melhorar a minha imagem. Mas ainda restam oito meses de tratamento.
Você parece mais solto, mais à vontade no clube.
Sim, agora até compreendo melhor a língua portuguesa. Já aprendi todos os palavrões (risos). Isso também reflexo da confiança que todos me dão.
Você se cobra muito por não ter ido bem no Inter em 2016?
Me incomodou muito. Vinha com um nome importante, pelo que fiz na Libertadores. Fiquei triste e tive propostas para ir embora, do México e da Europa, mas disse a meu representante que gostaria de ficar aqui para dar a volta por cima. Seijas, Danilo, todos quiserem ficar. Temos 100% de certeza que vamos voltar à Série A.
O que você projeta para a sua carreira no Inter, agora que permaneceu no clube?
Quero voltar à Série A. É o principal. Depois disso, quero fazer história no clube. Estou jogando com D'Ale, quero seguir os seus passos, ainda que seja difícil porque ele já ganhou muito.
O seu Gre-Nal foi muito bom. Entrou no segundo tempo, com Roberson, e mudou um jogo que parecia perdido.
Eu queria começar o clássico, mas tive de entrar no segundo tempo, quando estávamos perdendo. O Roberson foi bem também. Depois que perdemos o Carlinhos, lesionado, praticamente ficamos com um jogador a menos. E, jogando de visitante, com a torcida contra, fica tudo mais difícil. Se estivéssemos jogando 11 contra 11, poderíamos ter ganho. Me senti bem no clássico, já havia jogado Gre-Nal no Uruguai: Nacional e Peñarol é muito parecido. Quero jogar outro Gre-Nal.
Você chegou a um Inter sem D'Alessandro, agora, joga a seu lado. O que muda para o vestiário ter ou não ter D'Alessandro?
Ele ajuda demais o time na movimentação. Sabe socorrer o time. Por exemplo, dois minutos antes do gol que marquei sobre o Sampaio Corrêa (no jogo de ida, vitória colorada por 4 a 1), ele me disse: "Vai pela direita, que é gol". Fui, ele lançou do meio-campo, e fiz o gol. Corri para cumprimentar ele e D'Ale disse: "Te falei, te falei" (risos).
Você estabelece uma meta de gols pessoal para a temporada?
Sim. Espero marcar 25. Estou com quatro. E ainda há todo o segundo semestre por vir.
Você é o 29º jogador uruguaio a defender o Inter.
E espero fazer história no clube. Farei de tudo para conseguir isso.
As suas tatuagens têm algum significado?
Não, não querem dizer nada. Fiz a maioria no Uruguai e algumas aqui. Tenho 15 ao total. No peito, um rosário.
Você sonha jogar pela seleção uruguaia?
Seria um sonho, mas o mais importante é voltar à Série A. Se eu for bem no Inter, acho que serei chamado, ao menos para treinar. Nunca fui chamado para a seleção principal.
Você assistiu a Uruguai e Brasil?
Vi e brinquei com os meus colegas de Inter, quando o Cavani fez o gol. Mandei uma comemoração para o grupo Whatsapp do Inter. Até agora estão me falando "4 a 1, 4 a 1". Para que falei aquilo? Neymar jogou muito, foi uma partida sensacional do Brasil. O Uruguai não tinha perdido em casa, e o Centenário é um estádio difícil, onde a torcida empurra muito. O Brasil ganhou uma partida importante e disparou nas Eliminatórias.
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