
No ano em que a economia tenta deixar para trás uma das piores recessões da história, a agricultura gaúcha dará sua contribuição com uma supersafra de grãos. A colheita das lavouras de verão deverá alcançar volume recorde de 30,8 milhões de toneladas, gerando resultado econômico direto de R$ 29 bilhões. Divulgada pela Emater na Expodireto-Cotrijal, em Não-Me-Toque, a estimativa para a safra superou até mesmo as projeções mais otimistas. O volume de dinheiro em circulação refere-se apenas ao valor da produção, sem considerar reflexos em indústria, comércio e serviços.
– O efeito multiplicador para a dinâmica da economia é muito positivo. Os números da safra são fascinantes – avalia Tarcísio Minetto, secretário estadual de Desenvolvimento Rural.
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Se forem somados os grãos da colheita de inverno, como o trigo, a produção gaúcha passará de 33 milhões de toneladas.
– É o equivalente a pouco mais de três toneladas por habitante no Estado – compara Minetto.
O carro-chefe da supersafra será novamente a soja, com o volume histórico de 16,8 milhões de toneladas – 54% de toda a produção de grãos na temporada.
– Se não tivermos nenhuma intempérie, de agora até o momento da colheita, poderemos chegar a 17 milhões de toneladas – projeta o presidente da Emater, Clair Kuhn.
A supersafra de grãos é atribuída a condições climáticas favoráveis, boa luminosidade e regularidade de chuva, e à profissionalização dos agricultores – que a cada ano aumentam a produtividade das lavouras.
– As pesquisas e a adoção de tecnologia são responsáveis por boa parte desse resultado coroado, obviamente, pelo clima – diz Lino Moura, diretor técnico da Emater.
Com 900 hectares de soja cultivados na região de Não-Me-Toque, o produtor Régis Eliseu Guntzel irá começar a colheita a partir do dia 20. O vigor das lavouras faz com que calcule média de 4,8 mil quilos por hectare – o equivalente a 80 sacas por hectare. No ano passado, alcançou 72 sacas por hectare.
– Tenho agricultura de precisão em 100% da área e também comecei a investir em irrigação – descreve Guntzel, que calcula ganho de pelo menos 30% no rendimento da cultura com o uso de tecnologias na lavoura.

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Enquanto o rendimento das lavouras não deixa a desejar, o mesmo não ocorre com os preços da soja – cerca de R$ 64 no Estado. A queda na cotação deve se acentuar com a proximidade da colheita.
– Essa é a tendência, até porque em março e abril, historicamente, o preço do produto cai. Nos próximos 60 dias, poderemos ter as piores cotações do ano, abaixo dos R$ 60 – destaca Fernando Muraro, analista de mercado da AgRural.
Quem vendeu a safra no ano passado, de maneira antecipada, deverá se dar bem. Na época, o preço da saca se aproximou de R$ 100.
– Infelizmente, o produtor gaúcho não tem o hábito de vender parte da safra antecipada. Essa é uma lição que o mercado trouxe neste ano: não dá para concentrar as vendas em um período apenas – resume o analista, palestrante do Fórum Nacional da Soja, realizado ontem na Expodireto.