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Em um discurso emocionado durante a entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a presidente Dilma Rousseff lembrou que o trabalho realizado durante dois anos e sete meses para esclarecer violações cometidas pelo regime militar não pode incitar o ódio. Pelo contrário, é uma forma de fortalecer a democracia.
- A verdade não significa a busca de revanche. A verdade não precisa ser motivo para ódio ou acerto de contas - disse a presidente, que foi presa política durante a ditadura militar (1964-1985).
Dilma recebeu o relatório dos membros da CNV na manhã desta quarta-feira, o Dia Mundial dos Direitos Humanos, em cerimônia no Palácio do Planalto. Muito emocionada e por vezes com a voz embargada, a presidente precisou interromper o discurso para conter as lágrimas.
- A busca da verdade histórica é uma forma de construir a democracia e zelar pela sua preservação - disse.
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No final da manhã, o relatório foi apresentado à sociedade brasileira no auditório do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Brasília. (Confira, abaixo, a cobertura ao vivo). À tarde, o material será entregue aos presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal (STF).
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A presidente destacou que a atuação da comissão, que apurou as graves violações de direitos humanos ocorridas de 1946 a 1988, ajuda a recuperar a verdade factual, respeita a memória histórica e estimula a reconciliação do país, por meio da informação e do conhecimento.
Dilma não tratou abertamente da possibilidade de revisão da Lei da Anistia, defendida por grupos de direitos humanos e por familiares de mortos e desaparecidos, porém, destacou que reconhece e valoriza os pactos políticos que levaram o Brasil à redemocratização.
- Vamos nos debruçar sobre o relatório, vamos olhar as recomendação e propostas e delas tirar todas as consequências necessárias - afirmou Dilma.
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O relatório é dividido em três volumes e aponta a responsabilidade de agentes das Forças Armadas nas violações de direitos humanos, em episódios como tortura e assassinatos políticos. No primeiro volume, foram descritas as atividades da CNV e contextualizadas as estruturas, as cadeias de comando e os métodos da repressão, espaço seguido de conclusões e recomendações. No segundo, estão estudos sobre grupos que sofreram ou colaboraram com a repressão. No terceiro volume, foi narrada a história de 434 mortos e desaparecidos políticos.
Coordenador da CNV, Pedro Dallari lembrou que o relatório não encerra as investigações sobre os crimes perpetrados ao longo da ditadura. Ele afirmou que a comissão fez o que estava ao "alcance".
- Houve preocupação metodológica muito rigorosa para que o relatório pudesse ser um documento relevante - frisou.
Acompanhe ao vivo a apresentação do relatório
*Zero Hora