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Na apresentação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) à sociedade, o coordenador do grupo, Pedro Dallari, destacou que as violações de direitos humanos cometidas ao longo da ditadura militar (1964-1985) não foram atos isolados. A repressão violenta era uma política sistemática, definida e conhecida pelos presidentes do período. A CNV apontou a responsabilização de 377 agentes do Estado pelas violações.
- As graves violações não foram produtos de excessos - frisou Dallari.
Após entregar o relatório final a uma emocionada presidente Dilma Rousseff, nesta quarta-feira em Brasília, a CNV fez uma apresentação na sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Muitos familiares de mortos e desaparecidos estiveram presentes e fizeram discursos para continuidade das investigações, posição também defendida por Dallari.
- O relatório não representa o começo ou o fim das investigações - disse o coordenador.
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Em dois anos e sete meses de trabalho, a CNV colheu 1.121 depoimentos, realizou 80 audiências e sessões públicas para elaborar o relatório final. Com 4,4 mil páginas, o documento é dividido em três volumes e aponta a responsabilidade de agentes das Forças Armadas nas violações de direitos humanos, entre eles, os presidentes do período ditatorial, Castello Branco, Costa e Silva, Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo.
- Listamos 377 pessoas em relação aos quais há indícios consistentes de autoria de violações de direitos humanos - destacou Dallari.
No primeiro volume, o relatório descreveu as atividades da CNV e contextualizou as estruturas, cadeias de comando e métodos da repressão, espaço seguido de conclusões e recomendações, como revisão parcial da Lei de Anistia. Houve um capítulo especial para tratar da Guerrilha do Araguaia.
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No segundo volume estão estudos sobre grupos que sofreram ou colaboraram com a repressão, separados em textos temáticos, que abordam perseguições no meio militar, entre trabalhadores, camponeses, indígenas, homossexuais, lideranças em igrejas e universidades. Um texto contempla o apoio do empresariado ao regime. Já o terceiro volume recuperou a história de 434 mortos e desaparecidos políticos.
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Logo após a fala de Pedro Dallari, um senhor subiu ao palco sem autorização para defender os atos cometidos pelas Forças Armadas e pedir a inclusão do nome dos militares que morreram em defesa do regime. O homem foi muito vaiado e teve de ser retirado do evento.
Foi lida uma carta do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, saudando o relatório brasileiro. Presente, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) foi aplaudida em solidariedade à agressão verbal que o também deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) cometeu.
Presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous criticou a falta de cooperação do Exército, Marinha e Aeronáutica nas investigações sobre a repressão violenta realizada durante a ditadura.
- Nós vivenciamos a sistemática falta e negativa de colaboração por parte das forças armadas brasileiras para que nós atingíssemos o objetivo de alcançamento da verdade. Conclamo a todos os companheiros que integram comissões estaduais e municipais que nós tenhamos o relatório nacional como um guia de trabalho - disse.
Representantes dos familiares de mortos e desaparecidos cobraram informações sobre o destino de seus entes. Filho do jornalista Thomaz Meirelles, uma das vítimas da repressão, Togo Meirelles Neto prometeu manter a busca pela verdade.
- Iremos continuar essa luta, ainda queremos todas as repostas. Queremos saber como eles desapareceram e como eles foram mortos. Queremos justiça.
Acompanhe ao vivo a apresentação do relatório
*Zero Hora