
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu declarações fortes e contrárias ao governo de Dilma Rousseff durante um encontro, na quinta-feira, com um seleto grupo de padres e dirigentes de entidades religiosas no auditório do seu instituto, em São Paulo. Em tom de desabafo, Lula criticou duramente Dilma e creditou ao mandato dela, sobretudo o segundo, a crise vivida atualmente pelos petistas. As informações são do jornal O Globo.
Para Lula, a taxa de aprovação da presidente está no "volume morto", fazendo referência à crise hídrica paulista. Com o silêncio do Planalto, "governo parece um governo de mudos", segundo ele. O ex-presidente admitiu ainda que é "um sacrifício" convencer sua sucessora a viajar pelo país e defender sua gestão.
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- Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa situação muito ruim. E olha que o PT ainda é o melhor partido. Estamos perdendo para nós mesmos - disse Lula.
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Os mais de 30 participantes do encontro, entre eles o bispo dom Pedro Luiz Stringhini, não deram trégua ao ex-presidente e fizeram duras críticas ao PT, ao governo, ao próprio Lula e outros petistas, incluindo o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Lula fez cobranças ao governo pelo distanciamento com os movimentos sociais, falta de agenda positiva e exposição pública. Ele ainda reclamou que Dilma tem dificuldades de ouvir conselhos pessoais dele.
- Na falta de dinheiro, tem de entrar a política. Nesses últimos cinco anos, fizemos muito menos atividade política com o povo do que fizemos no outro período - disse.
A reunião faz parte da estratégia do partido de tentar se reaproximar de sua base social. O interlocutor da ala religiosa é o ex-ministro Gilberto Carvalho. Durante o encontro, Carvalho, que saiu do núcleo central do governo Dilma depois de muitas críticas à atuação da equipe da presidente, concordava com Lula, completava frases e assentia com a cabeça enquanto o ex-presidente subia o tom:
- Aquele gabinete (presidencial) é uma desgraça. Não entra ninguém para dar notícia boa. Os caras só entram para pedir alguma coisa. E como a maioria que vai lá é gente grã-fina... Só entrou hanseniano porque eu tava no governo, só entrou catador de papel porque eu tava no governo - declarou Lula.
O petista, que não falou com os padres sobre uma possível candidatura à Presidência em 2018, mas não esconde que pode concorrer ao terceiro mandato, disparou fortemente contra os ministros, sobretudo os do PT.
- Os ministros têm de falar. Parece um governo de mudos. Os ministros que viajam são os que não são do PT. Kassab já visitou 23 estados, não sei quem já visitou 40 estados - exagerou.
Para criticar o empenho de Dilma na aprovação do ajuste fiscal, Lula afirmou:
- Falar é uma arma sagrada. Estamos há seis meses discutindo ajuste. Ajuste não é programa de governo. Em vez de falar de ajuste... Depois de ajuste vem o quê? - criticou Lula, apontando que é preciso "fazer as pessoas acreditarem que o que vem pela frente é muito bom". Segundo o petista, "agora parece que acabou o (assunto) do ajuste".
*Jornal O Globo